A UNITA, oposição angolana, considerou hoje que o “esquema de corrupção” que envolve o major Pedro Lussati, ligado à Presidência da República, configura a “fragilidade do sistema de segurança” de João Lourenço e do “Estado angolano em geral”
Para Álvaro Chicuamanga, secretário-geral da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido na oposição angolana, o “caso Lussati” demonstra o “nível de gravidade” que atingiu o problema da corrupção em Angola”.
“Por não ser normal que um oficial, naquela patente, e nem que fosse general tenha tanto dinheiro que pode até superar o orçamento de muitos Estados”, afirmou hoje, Álvaro Chicuamanga, em declarações à Lusa.
A “nossa impressão é que o problema é grave”, mas, realçou, “é difícil entender que apenas um major tenha abocanhado aquele dinheiro todo para as suas malas e carros, é um processo que está a ser investigado”.
“Que a justiça faça o seu trabalho e tragam ao público a conclusão real da situação se é mesmo ele que desviou ou é apenas um testa de ferro de personalidades que estão por detrás deste escândalo”, notou.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana anunciou na passada semana a detenção do major Pedro Lussati, ligado à Casa de Segurança do Presidente da República angolana, encontrado em posse com milhões de dólares, kwanzas e euros guardados em malas e caixotes.
Foram igualmente apreendidos vários bens móveis e imóveis do oficial militar indiciado pelos crimes de peculato, retenção de dinheiro e associação criminosa.
Mais de 10 oficiais generais, incluindo o ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente angolano, Pedro Sebastião, já foram exonerados por João Lourenço na sequência deste caso cujo processo continua sob investigação na PGR.
O general Francisco Pereira Furtado, ex-Chefe do Estado Maior Geral das Forças Armadas Angolanas (FAA), é o novo ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente angolano, empossado ao cargo nesta terça-feira.
Hoje, Álvaro Chicuamanga definiu como “sinal positivo” as exonerações das altas chefias militares “para que elas possam responder em juízo” por “se presumir o envolvimento destes”, frisou, “neste escândalo”.
Mas, por outro lado, sublinhou, “isto (caso Lussati) revela a fragilidade não só do sistema de segurança do Presidente da República, do Estado em geral, mas também a fragilidade com o processo de combate à corrupção está a ser levado”.
O político da UNITA considerou também que a nomeação do general Francisco Pereira Furtado como “uma forma de olhar o problema”, acusando, no entanto, este de “ter um rastilho negativo no seu currículo não esclarecidos até agora pela PGR”.
A agremiação política na oposição quer que o problema da corrupção em Angola “não deve envolver apenas o MPLA, partido no poder, e o seu Governo, mas outras personalidades, sobretudo da sociedade civil, ilesas de qualquer um desses escândalos”.
“Continuamos a apelar que o combate à corrupção é um assunto sério, é de interesse nacional, mas o Presidente da República deve olhar isso com mais atenção, envolvendo outras personalidades e não deve olhar isso como um problema apenas do Governo e não haja aqui meias medidas para se combater à corrupção”, apontou o político.
Sobre o assunto, o secretário para a Informação do bureau político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975), Rui Falcão, disse que “combate à corrupção continua a todos os níveis”.
“Só é possível trazer a público estes e outros factos, porque o combate à corrupção é efetivo e sério. Não fosse isso, jamais esses casos seriam conhecidos. Corrigir o que está mal não é uma vereda de facilidades”, escreveu Rui Falcão, em nota enviada na terça-feira à Lusa.
Questionado sobre a reação do MPLA, Álvaro Chicuamanga considerou-a como “uma versão propagandística do assunto”, referindo que “o problema é muito mais grave do que o MPLA estar a quer levar à público”.
“Há tempo já houve uma acusação do diretor do gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa, e, até agora, não se tem resposta sobre isso, agora mais um outro escândalo em volta do pessoal da Presidência da República, portanto a coisa é tão grave”, rematou Álvaro Chicuamanga.