O arcebispo da Igreja Católica no Lubango, D. Gabriel Mbilingi, reconheceu, ontem, que o pedido de desculpas do Presidente da República, pelo s massacres ocorridos a 27 de Maio de 1977 “é o virar de uma página de vitória sobre o ódio”
Em declarações ao Jornal de Angola, D. Gabriel Mbilingi, disse que o gesto é digno de realce, sobretudo porque, depois de cerca 44 anos, as famílias das vítimas ficaram no silêncio, na dúvida, em lágrimas e na frustração de não poder manifestar o sentimento. “Todas as coisas têm a sua hora. Talvez até apreciemos melhor, agora, este gesto de desculpa às vítimas, porque se fosse feito logo no segundo ou terceiro ano depois daquilo que aconteceu, não teríamos, se calhar, clima suficiente para aceitar”, considerou.
O prelado católico lamentou o ocorrido, mas referiu que, talvez depois de tanto as pessoas sofrerem, viram naquele pedido de perdão do Presidente da República um apelo à reconciliação e unidade, para “começar a escrever uma página nova de vitória sobre o ódio e sobre a morte porque é um novo renascer”.
Minimizou as vozes, segundo as quais o gesto do Presidente João Lourenço foi um aproveitamento político. “Eu estou-me nas tintas quando se fala que aquele gesto é um aproveitamento político. Eu sou um bispo. Quando o pecador se arrepende e o prevaricador diz que não quer fazer mais isso, é aquilo que interessa”, disse. Para D. Mbilingi o gesto do Chefe de Estado “está cheio de simbolismo” porque vai, também, além dos aspectos materiais e físicos. “O gesto fica para a História, porque, além de uma simples entrega de uma certidão de óbito, entregam-se as ossadas para que se faça um enterro digno”, sublinhou.
Ao reconhecer que “perdoar não é fácil”, o arcebispo considerou que a iniciativa do Presidente João Lourenço fica para a História. “Pedir a reconciliação não é uma questão assim automática e, por isso, só abraça quem perdoou”, referiu