CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Excelência Senhor
JOÃO MANUEL GONÇALVES LOURENÇO,
Presidente da República de Angola
Assunto: Governador do Cuanza Norte acusado de conspirar contra jovens.
Senhor Presidente;
O grupo de Jornalistas de Investigação Independentes pretende, antes de qualquer abordagem, endereçar votos de saudação, extensivos a vossa família e colaboradores, desejar saúde e bom labor.
Igualmente, manifesta o seu apoio no combate à corrupção em curso no Pais, um mal que influenciou negativamente o posicionamento de Angola na arena internacional, o modo de vida dos angolanos, a economia e saúda, sobretudo, o envolvimento dos Serviços de Inteligência nesta luta.
Senhor Presidente;
Numa altura em que o Pais procura reconciliar partes desavindas e desfazer-se das práticas que não abonam ao desenvolvimento e bem-estar das pessoas, admira-nos saber através de familiares, amigos e população em geral da Província do Cuanza Norte que, presumivelmente o senhor Adriano Mendes de Carvalho, Governador Provincial do Cuanza Norte esteja a orquestrar uma conspiração contra jovens promissores como os dois Procuradores do Departamento de Combate à Corrupção, contra o ex Director do Gabinete de Inspecção e Fiscalização, contra um técnico do referido Departamento, contra um jornalista da Rádio Ecclesia, contra um funcionário do BPC e contra dois activistas sociais, por razões insustentáveis, que encobrem simplesmente um propósito proteccionista de entidades detidas por crimes financeiros.
Embora se reservem ao silêncio, os fiéis depositários de Luís Alexandre, Daniel Maquibi, Jerónimo Francisco, Moisés Gaspar, Farewell Domingos, Gamariel Gamy, Capita Inga e Gutembergue, corajosamente denunciam o que afirmam tratar-se de uma conspiração real contra os seus próximos e que se não for acautelada pode vitimar os mesmos.
Sustentam que na visão do governante e de seus aliados “as detenções no Cuanza Norte são desproporcionais ao resto de Angola”, julga que os Procuradores deveriam ser “visionários” porque os discursos políticos e programas de governação não devem ser seguidos à risca e para o caso do ex Director da Inspecção e Fiscalização insinua ter colaborado com a PGR sem a sua autorização, o que em fórum de magistrados foi desconsiderado, já que a referida instituição nunca trabalhou dependente dele, embora todos nós reconheçamos as suas competências para a função, tendo surpreendido o facto de até ao presente momento não ter assumido outras funções, após a extinção do cargo que vinha exercendo.
E porque assim se suspeita, tudo indica que o senhor governador Adriano Mendes de Carvalho está a criar condições para evitar possíveis processos-crime contra outros técnicos do seu circulo, se não mesmo contra si e entende que não será fácil faze-lo com os mesmos no centro administrativo da Província, razão que o levou a aliciar a Procuradora Provincial com uma viatura de marca Toyota, modelo Land Cruiser “18 Províncias”, 0 KM e a sequestrar a neutralidade de várias instituições, cujas atribuições evitariam a concretização do plano.
Na ordem do quarto parágrafo e para melhor descrevermos o que entendem como verdade, é de conhecimento público que o governante influenciou a transferência para o Município de Cambambe, do Procurador responsável do Departamento de combate à corrupção, este que acabou extinto somente no Cuanza Norte, após a visita do Procurador-Geral da República adjunto e acompanhante da Região Norte, a colocação no Tribunal de Comarca do Cazengo do seu colega Procurador, que no decurso das ocorrências foi expulso da residência protocolar do Governo Provincial sem prévio aviso, está provavelmente também a influenciar uma possível transferência do ex Director da Inspecção para um território longínquo, recomendou a instauração de um Processo disciplinar e a consequente expulsão da função pública do técnico do Departamento de Combate à Corrupção, directa e indirectamente proferiu ameaças ao jornalista Farewell Domingos, ao bancário Gamariel Gamy e aos activistas sociais Capita Inga e Gutemberg recomendou a instauração de processos-crime.
Senhor Presidente;
O maior medo da população, dos familiares e amigos prende-se com um possível atentado contra a integridade física dos jovens, pois, acham que o senhor Governador Provincial demonstra um espírito fratricida e que tais situações já motivaram reacções contra si, incluindo da parte de alguns procuradores, que não o pouparam da acusação de estar por trás desta acérrima perseguição e reestruturação corruptiva da PGR local.
Segundo nos constou, toda esta manobra tem como objectivo fragilizar todo um trabalho árduo que os procuradores vêm fazendo para minimizar a corrupção na Província e até onde sabemos a situação já é do conhecimento dos Órgãos que intervêm na administração da justiça na Província, que tudo pretendem fazer para manifestar repúdio a esta interferência do Governo local sobre a vida democrática da Província e solidificação das instituições públicas.
Com todo respeito que reservamos a vós, gostaríamos também de transmitir que a população daquela Província pede que continue a considerar o Cuanza Norte uma parcela de Angola, pois, a miséria é notória por tudo quanto é canto, a Província parece estar cada vez mais desgovernada e espera que a semelhança das demais, os hospitais, centralidades e outras imponentes infra-estruturas sejam também implantados lá, para acabar com a ideia de que é apenas uma importante praça eleitoral.
Para terminar queremos manifestar e apelar a solidariedade de vossa Excelência Presidente da República aos lesados, pedir franca e encarecidamente que intervenha nas situações referidas, na qualidade de mais alto representante e magistrado da Nação, para que se possa evitar o pior e a fim de Angola ser um verdadeiro Pais democrático e de direito, ciente de que faremos o devido acompanhamento ao assunto.
Na expectativa de uma solução urgente das situações aqui apontadas e fazendo jus às vossas célebres frases “Terá medo do futuro aquele que não compreender que Angola mudou definitivamente e Angola nunca mais será a mesma”, subscrevemo-nos.
Atenciosamente;
Jornalistas de Investigação Independentes.
Ndalatando, aos 12 de Junho de 2021