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Laura Macedo: Heroína por algumas horas, vilã para o resto da vida?

Há coisa de 2 meses, foi elevada quase à categoria de «heroína nacional» por, num assomo de coragem e patriotismo, ter ajudado a «desmontar» as teias de uma suposta instituição filantrópica portuguesa que se quis aproveitar da miséria e vulnerabilidade das crianças angolanas e colher com isso dividendo financeiros.

Num repente, as portas das rádios e TV escancaram-se-lhe, o seu nome saltou para as páginas dos jornais e redes sociais, ao mesmo tempo que lhe estendiam tapetes vermelhos à sua passagem.

Aos olhos do regime, o seu estatuto viria a sofrer um surpreendente «up grade», passara de vilã à heroína, porque não só ajudara a frustrar uma acção criminosa, como também a desdramatizar junto à opinião pública nacional e internacional o cenário da miséria das crianças angolanas. Por arrasto, a denúncia acabaria aproveitada para desacreditar e desmantelar a «tendenciosa» SIC, a TV dos tugas que, na óptica da propaganda governamental, não morrerá de amores pela Revolução angolana e pelo seu governo saído de eleições «justas, livres, transparentes, exemplares e recomendáveis».

No último sábado, a Laura saiu de casa em direcção à avenida Deolinda para, no local da concentração previamente marcado, juntar a sua voz aos que «não têm voz» e juntos gritarem por mais direitos, empregos e pelas autarquias.

No local da «Manif» deu de caras com um enorme aparato policial. Inicialmente, pensou que os másculos tivessem sido enviados para protegerem os manifestantes dos arruaceiros. Não demorou muito a concluir que os homens de rostos fechados, de armas aperradas, que se faziam acompanhar de cães, cavalos, veículos blindados, granadas de gás lacrimogéneo estavam lá não para «distribuir rebuçados e chocolates»…

À memória vêem-lhe as imagens não muito distantes da África do Sul sob a bota do apartheid, das cargas policiais da polícia sobre os negros oprimidos, das longas noites coloniais asfixiantes.

Às esperanças de Laura participar numa manifestação pacífica foram-se esvaindo até cair na real ou, melhor, às mãos de agentes policiais que lhe ditaram a voz de prisão.

Confinada por detrás das grades metálicas, atirada para um dos cantos de uma cela bafienta, algures numa das cadeias de Luanda, Laura viu-se esquecida pelas rádios e TV´s. Nem uma palavra, um gesto de solidariedade da OMA e de outras as organizações que dizem defender os direitos e liberdades das Mulheres…

Estará ela a fazer o percurso em sentido contrário, ou seja, Heroína por algumas horas, e Revú/vilã para o resto da vida?

Ilidio Manuel

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