Vários ativistas de Cabinda condenam a forma como são tratados pela polícia, sobretudo em manifestações. Muitos afastaram-se por causa das detenções e abusos recorrentes, o que os faz questionar se é crime ser ativista.
A maneira como muitos ativistas são tratados em Cabinda está a gerar uma onda de insatisfação no seio da sociedade. Em causa estão as detenções arbitrárias, as torturas e os maus tratos recorrentes, alegadamente por parte da polícia.
Os ativistas denunciam a insensibilidade humana verificada nos momentos das detenções. No passado fim de semana, por exemplo, Geraldo Divino foi alvo de uma detenção por parte do Serviço de Investigação Criminal (SIC). O ativista ficou três dias detido sob uma acusação formal por ter convocado uma manifestação em 2019.
Em declarações à DW, Maurício Ngimbi, presidente da União dos Cabindeses Independentistas (UCI), diz que o ativismo em Cabinda é combatido com as forças militarizadas para inviabilizar os esforços empreendidos por estes.
“Quando falamos de Cabinda, estamos diante de uma colónia, pelo que qualquer tentativa de manifestação está condenada à repreensão devido à situação político-militar. Portanto, ser ativista em Cabinda passa a ser um crime, é um pecado grave porque você se declara um inimigo de Estado e perde-se muitas oportunidades”, critica.
Novo núcleo de ativistas
Segundo um relatório da Human Rights Watch (HRW) deste ano, Angola registou alguns progressos no que diz respeito às liberdades civis, mas o país manteve o uso excessivo da força contra civis, bem como a repressão aos ativistas de Cabinda.
Para continuar a promover mais liberdades, foi assim criado um núcleo de ativistas de Cabinda, um projeto que visa agregar jovens de diferentes bandeiras da sociedade civil, com objetivo de solidificar as ideias e pensamentos para as mais variadas lutas.
“O trabalho agora consiste em torná-lo numa organização universal. Atualmente, o NAC é constituído por 21 pessoas e está dividido em coordenações regionais, nomeadamente Cabinda, Benguela, Huambo, Canadá e Estados Unidos”, explica Jeovany Ventura, fundador e coordenador do núcleo.
Ventura diz ainda que, apesar de cada um pensar diferente, os ativistas em Cabinda estão unidos e que as manifestações convocadas por muitos destes são uma ameaça para o Governo.
“A razão pela qual os ativistas em Cabinda são sempre detidos e torturados quando o assunto é manifestação, passa a ser uma ameaça, porque a manifestação acaba despertando mentes e instituições internacionais devido a situação político-militar”, conclui.
A causa de Cabinda
Já o ativista Filomão Futi, membro do Movimento Independentista de Cabinda (MIC), critica o ativismo em Cabinda, que considera ser “um fracasso e está doente porque muitos se fazem de ativistas apenas nas redes sociais.”
Mas há quem deixe outros exemplos. O ativista João da Graça Mampuela, da UCI, garante que vai continuar a defender os ideais do povo do enclave. “Já fui preso três vezes e torturado uma vez. O meu ativismo sempre será a causa de Cabinda, o resgate da soberania e da identidade deste povo”, promete.
“Penso que quando os nossos ancestrais assinaram o Tratado de Simulambuco, em que se anexou Cabinda à nação portuguesa, nós tínhamos uma identidade que foi roubada”, lembra ainda João Mampuela.
Sem aceitar identificar-se nem gravar entrevista, outro ativista cívico de Cabinda denunciou que ativistas bastante conhecidos estão envolvidos com políticos, outros ponderam abraçar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder, porque almejam cargos, o que considera “aberrante”.