África: Especialista alerta para aumento do impacto das “alterações climáticas” nos PALOP

Os PALOP deverão sofrer mais com as mudanças climáticas por estarem na zona dos trópicos. O alerta é lançado por especialista ouvido pela DW África. As consequências já se fazem sentir com secas e fortes chuvas sazonais.

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climáticas (IPCC, na sigla inglesa) revela que a temperatura global irá subir 2.7 graus até 2100. O limite de 1.5 graus estipulado pelo Acordo de Paris, em 2015, deverá ser ultrapassado até 2030.

Como consequência, já se observam eventos drásticos como as fortes chuvas no Norte da Alemanha e no interior da China, além dos incêndios em países como a Grécia e a Turquia e a Costa oeste dos Estados Unidos.

Izidine Pinto é climatologista e pesquisador da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, e alerta que a tendência é que esses eventos fiquem ainda mais frequentes e intensos. E deixa o aviso, em especial, aos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP).

“Os riscos não dependem só da magnitude e do ritmo do aquecimento, mas também da localização geográfica, níveis de desenvolvimento, vulnerabilidade, escolhas de implementação de adaptação e mitigação. E os PALOP são maioritariamente não desenvolvidos, o que faz com que a vulnerabilidade e a as mudanças climáticas sejam maiores”, explica.

Os impactos já são realidade

Países localizados na região dos trópicos, como os PALOP, devem sofrer um aquecimento mais intenso, além das secas mais drásticas e alteração dos níveis de chuva. Além disso, a exposição a ciclones tropicais, como é o caso de Moçambique, também pode afetar gravemente a economia.

Daniel Vasconcelos, da ONG Justiça Ambiental, localizada em Maputo, conta que o impacto já é realidade. Explica que boa parte da população é camponesa e tem tido dificuldades em manter as produções.

“Há uma boa noção de que o clima está a mudar, e para pior. Está cada vez mais difícil ser camponês. Fenómenos climáticos estão a criar grandes dificuldades para conseguirem continuar com os seus meios de subsistência. Aquilo que o camponês está a falar, a sentir e a sofrer é igual a aquilo que a ciência alerta e os dois estão a falar das mudanças climáticas”.

Exploração de combustíveis fósseis

Um dos principais fatores assinalados pelo relatório do IPCC para o aquecimento global é o uso de combustíveis fósseis e Moçambique é um dos principais produtores de gás natural em África.

Vasconcelos assinala que enquanto as empresas extratoras, na maioria internacionais, não pararem de explorar e os políticos locais se aproveitarem da situação para enriquecer, é impossível preparar para as mudanças que estão para vir.

“A Europa está a investir grandes quantidades em gás, em exploração de gás, por exemplo, em Moçambique. Nesse momento, se todo o gás só de Cabo Delgado é explorado, estamos a falar de sete anos de emissões da França, só para ver a escala dos projetos”, explica.

O ativista acrescenta ainda: “A nossa política está corrupta e está a beneficiar pessoalmente desses projetos e por causa disso, eles não vão contra. Então primeiro, antes de falar de adaptação e outras questões, temos de diminuir drasticamente as emissões de gás de efeito estufa. Sem isso, qualquer outra atividade não vai funcionar”, alerta.

No dia do lançamento do relatório do IPCC, António Guterres, secretário-geral da ONU, fez um apelo para que países ricos e bancos de desenvolvimento aplicassem 255 bilhões de euros nos outros territórios para estes se adaptarem às mudanças. Apenas alguns países no mundo já começaram esse investimento.

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