O antigo Presidente de Portugal Jorge Sampaio morreu nesta sexta-feira, num hospital em Lisboa, onde se encontrava internado desde 27 de Agosto por problemas respiratórios. Socialista destacou-se pela luta contra o fascismo e a favor dos desfavorecidos.
Conhecido pelo seu humanismo e combatente contra a ditadura salazarista, Sampaio foi secretário-geral do Partido Socialista e também presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
A 14 de Janeiro de 1996 foi eleito Presidente da República com 53,9% contra 46% do antigo primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva, para quem tinha perdido as legislativas de 1991.
Foi reeleito em 2001, e no fim dos 10 anos, a Presidência de Sampaio foi marcada por uma forte proximidade com os portugueses, nas chamadas jornadas ou semanas temáticas, nas quais ele se destacou por criticar o Governo, na altura liderado pelo seu próprio partido.
O afável ex-advogado socialista teve um segundo mandato, embora mais turbulento, e mostrou o peso do poder presidencial que é normalmente um cargo cerimonial em Portugal.
Com o défice orçamental a aumentar e Portugal à beira da recessão, os socialistas perderam as eleições antecipadas de 2002 para uma coligação de centro-direita do Partido Social Democrata e do Partido Popular.
Em 2004, a recusa de Sampaio em realizar eleições antecipadas depois de José Manuel Durão Barroso ter-se demitido do cargo de primeiro-ministro para liderar a Comissão Europeia, desencadeou fortes protestos dos partidos de esquerda.
Numa tentativa de assegurar a estabilidade política, ele nomeou outro social-democrata, Pedro Santana Lopes, como primeiro-ministro, apenas para concluir os quatro meses depois de o novo Governo não alcançar os resultados desejados nem assegurar muita credibilidade.
Jorge Sampaio usou os seus poderes presidenciais, frequentemente apelidados de “bomba atómica” em Portugal, para dissolver o Parlamento e convocar novas eleições para Fevereiro de 2005, o que levou os socialistas de volta ao commando, tendo como primeiro-ministro José Sócrates.
Na sua biografia, Sampaio disse ao autor, José Pedro Castanheira, que estava “farto de Santana Lopes como primeiro-ministro ao deixar o país à deriva”.
Em 2007, o então secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nomeou-o para chefiar a Aliança das Civilizações.
Defensor dos favorecidos
“Jorge Sampaio nasceu e educou-se para se tornar um lutador e a sua luta tinha um objectivo: liberdade e igualdade”, disse o actual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa num discurso televisivo à nação.
“Ele provou que pode nascer-se privilegiado e ainda dedicar a sua vida a ajudar os desprivilegiados”, acrescentou Rebelo de Sousa, quem destacou a luta de Sampaio pelo fim da ditadura portuguesa, que se desmoronou em 1974, pela independência da ex-colónia de Timor Leste e pelos direitos dos refugiados.
Jorge Fernando Branco de Sampaio nasceu numa família liberal de classe média em Lisboa.
Quando criança, viveu com os pais nos Estados Unidos, onde o seu pai estudou saúde pública e, mais tarde, em Inglaterra. Falava inglês fluentemente.
Estudou Direito na Universidade de Lisboa e nos anos 60 o advogado de cabelo ruivo e óculos ganhou proeminência na defesa dos prisioneiros políticos do regime fascista de António Salazar.
Sampaio tornou-se então politicamente activo na oposição clandestina.
Após a Revolução de 1974 que levou a democracia a Portugal, fundou o Movimento Socialista de Esquerda mas logo abandonou o projecto e, em 1978, juntou-se ao Partido Socialista, tornando-se seu secretário-Geral em 1989.
Fervoroso adepto da equipa de futebol Sporting, Sampaio teve dois filhos com a sua segunda esposa Maria José Rita.