O perdão da dívida da China com os países africanos e o financiamento da infraestrutura chinesa serão prioridades no próximo Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos da África (ACSS).
Em um novo artigo publicado pela ACSS, o analista Paul Nantulya argumenta que no FOCAC 2021 em Dakar, Senegal, o perdão da dívida “será uma venda difícil”, com os credores chineses detendo “cerca de 21% da dívida africana” e tendo “empréstimos estendidos no valor de USD 152 bilhões a 49 países entre 2000 e 2018”.
Segundo apurado, os dez países com as maiores dívidas chinesas são Angola (US$ 25 bilhões), Etiópia, (USD 13,5 bilhões), Quênia (USD 7,9 bilhões), Zâmbia (USD 7,4 bilhões), República do Congo (USD 7,3 bilhões), Sudão (USD 6.4 bilhões), Camarões (US$ 5,5 bilhões), Nigéria (US$ 4,8 bilhões), Gana (US$ 3,5 bilhões) e República Democrática do Congo (US$ 3,4 bilhões). Depois de receber o perdão parcial da dívida da China, a dívida de Moçambique é de cerca de US$ 2 bilhões.
“A China teme abrir um precedente para o perdão geral e provavelmente se ater à reestruturação da dívida e ao adiamento dos pagamentos. Pelo menos 18 nações africanas estão renegociando dívidas com cerca de 30 diferentes credores chineses. Outros 12 países africanos estão tentando remarcar cerca de US$ 12 bilhões em empréstimos”, diz o analista.
“Não está claro se parte da dívida reestruturada envolverá financiamento de recursos para infraestrutura (RFI) ou swaps de capital próprio. Em ambos os cenários, os mutuários correm o risco de perder activos estratégicos, efectivamente colocando sua soberania em risco. Observadores africanos estão alertando que a China estaria cortejando um desastre de relações públicas se desse certo caminho”, diz o analista.
A negociação do aumento do financiamento da infraestrutura, acrescenta, “será complicada, pois os empréstimos de infraestrutura da China e o IED na África podem desacelerar no médio prazo devido ao crescente número de mutuários incapazes de pagar suas dívidas”.
Espera-se também que o acesso à vacina da Covid-19 seja uma prioridade para a União Africana, que busca compromissos da China para abrir instalações de produção para permitir que os países africanos comprem vacinas e mobilizando o apoio chinês ao esforço contínuo da UA para estabelecer cinco centros de fabricação de vacinas em toda a África.
Em julho, o Egipto começou a fabricar a primeira vacina chinesa COVID-19 em África através de uma parceria com a Sinovac, um modelo que a UA quer replicar como parte de uma estratégia maior para resolver a escassez de oferta.
“Os problemas de dependência de commodities, barreiras não tarifárias e déficits comerciais também serão destaque nas discussões de Dakar. Apesar dos seus compromissos declarados de diversificar, a China importa pouco além das commodities, e os seus mercados para produtos africanos acabados permanecem difíceis de acessar, um problema que requer grandes reformas políticas do lado chinês”, acrescenta Nantulya.