Há um ano, uma série de reportagens da TPA denunciaram esquemas de corrupção que envolviam titulares de cargos públicos em Angola. Cidadãos hoje questionam o resultado prático das revelações feitas pela estatal.
“O banquete”, da Televisão Pública de Angola (TPA), trazia dados e detalhes sobre como alguns ex-titulares de cargos públicos desviaram o dinheiro do Estado. Volvido um ano desde a emissão da primeira reportagem sobre corrupção, os citados ainda não foram indiciados.
Em declarações a DW África, o jornalista Guilherme da Paixão acha que “o banquete” era só para “inglês ver”, uma operação de charme que teria o objetivo de criar uma imagem internacional de que Angola está a implementar uma ofensiva contra a corrupção.
“Mesmo na gestão de José Eduardo dos Santos, ele também falava da luta contra a corrupção. Desde 1992, fala-se disso. Quando os órgãos de informação, televisão em particular até jornais, denunciaram, nós não vimos a Procuradoria-Geral da República, as instâncias de justiça a irem atrás”, opina.
Gaspar dos Santos, secretário permanente da Juventude do Partido de Renovação Social (PRS) lembra que, até ao momento, não se nota nenhum resultado. Entre os citados no “banquete” da TPA está Manuel Vicente, ex-vice-presidente angolano na governação de José Eduardo dos Santos. “O banquete que é arrepiante, demonstra que há um processo que está a ser levado a cabo no sentido de reorganizar as coisas”, observa.
Combate cerrado
Para Gaspar dos Santos os atores envolvidos são peças pequenas dentro do “xadrez”, é seria necessário levar a cabo um combate cerrado contra a corrupção em Angola, “sem olhar para as pessoas, sem ter receio da dimensão e nome que essas pessoas carregam no país.”
Em relação aos prazos processuais – independentemente da complexidade do crime e da morosidade do sistema de justiça – o jurista angolano Agostinho Canando vê desafios que contribuem para a impunidade porque “alguns dos ex-dirigentes são deixados à solta, e nem sequer responsabilizados”.
A DW África tentou sem sucesso saber da Procuradoria-Geral da República sobre se está em curso alguma investigação aos cidadãos citados no “banquete”. Entretanto, a velha questão de seletividade na luta contra a corrupção do Presidente João Lourenço continua a ser levantada por muitos observadores e analistas.
“Começa-se a se falar aqui de uma luta muito seletiva de alguns. E aqueles que continuam até hoje nos cargos da nova governação, mas o mesmo partido, também têm indícios de corrupção muito altas lá fora e também por cá”, diz Guilherme da Paixão.
Reação internacional
O Governo norte-americano anunciou que os ativos dos generais Helder Vieira Dias “Kopelipa” e Leopoldino do Nascimento “Dino”, foram bloqueados nos Estados Unidos por atos de corrupção. A Administração Biden também aplicou restrições de visto à empresária angolana Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, pelos mesmos motivos.
O presidente angolano João Lourenço diz que o seu Governo vai continua a levar a cabo a “cruzada contra corrupção”, o seu cavalo de batalha. “Sob direção do MPLA, o país leva a cabo a luta contra a corrupção e a impunidade para moralização da nossa sociedade”, reitera Lourenço.
O presidente está convicto de que há um esforço no Governo não só para combater a corrupção como também “recuperar os ativos ilicitamente adquiridos onde quer que se encontrem”.
Guilherme da Paixão observa que o povo angolano está cansado de ouvir sobre a luta contra a corrupção e quer ver resultados práticos. “Apresentaram as verbas, o dinheiro recolhido resultou em quê? Eu, enquanto cidadão angolano, julgo que ainda temos muito caminho a percorrer na luta contra a corrupção”, conclui.
O jovem político Gaspar dos Santos também acha que os resultados da luta contra a corrupção não se refletem na vida dos cidadãos. “O combate é bem-vindo, mas devemos encontrar formas de encontrar ganhos dentro deste combate. Porque até ao momento ainda não estamos a ver ganhos significativos”, opina.