A morte imprevista de Sindika Dokolo, além de ser uma perda irreparável para a família, acarreta também a necessidade de um novo olhar sobre os processos judiciais em que estava envolvido com a sua esposa, Isabel dos Santos, a qual se transformou numa espécie de “inimiga pública número 1” do Governo angolano.
A questão que se coloca é simples: será que esta tragédia poderá contribuir para que esta guerra sem quartel tenha um fim, ou, pelo menos, um armistício? Por estranho que possa parecer, um desfecho desta natureza não está nas mãos de Isabel dos Santos nem do atual chefe do Estado angolano, João Lourenço.
Um eventual volte-face desta situação passa essencialmente por José Eduardo dos Santos e uma atitude proativa do antigo Presidente da República, que se encontra numa espécie de exílio voluntário em Barcelona. Logo após o falecimento de Sindika Dokolo, no Dubai, João Lourenço deu um sinal da forma como avalia o clã Dos Santos.
O líder angolano endereçou “os mais profundos sentimentos de pesar ao presidente JES” pela morte do genro, omitindo Isabel dos Santos. Daqui resulta uma dupla análise. Atendendo à aspereza do relacionamento com Isabel dos Santos e o seu falecido marido, João Lourenço tinha consciência de que se dirigisse condolências à empresária tal poderia ser avaliado como uma atitude hipócrita.
Ao manifestar os seus sentimentos a José Eduardo dos Santos identifica aquele que considera ser o verdadeiro líder da família. Ou seja, o futuro dos seus filhos, José Filomeno dos Santos (condenado a cinco anos de prisão), e de Tchizé e Isabel, forçadas a viverem no estrangeiro, só se alterará com a ação de JES.
A viagem obrigatória
Este desfecho não será possível de alcançar através da intervenção de intermediários. Em tempos, Carlos Feijó, tentou fazer esse papel sem êxito e outras figuras próximas do antigo presidente, como os generais Dino ou Kopelipa, não possuem perfil para esse exercício diplomático. Na realidade, a singular maneira de alterar este quadro é a de José Eduardo dos Santos se deslocar voluntariamente a Luanda para conversar com João Lourenço. Esta iniciativa seria um sinal inequívoco de que reconhece a legitimidade do atual Presidente e permitiria o esclarecimento de eventuais mal-entendidos entre ambos. Ou seja, um gesto de humildade de JES constitui-se como o único fator capaz de mudar o jogo e afrouxar o cerco à família Dos Santos
O antigo presidente deverá ter ainda em conta que o drama familiar que atingiu Isabel dos Santos reveste-se de uma natureza perene, aumentando as vulnerabilidades da sua filha primogénita. A mensagem de Lourenço é um convite a que JES dê esse passo. Uma ida a Luanda poderá fazer toda a diferença.
Texto do JN