Milhares de jovens à procura de emprego acorreram nesta terça-feira, 18, ao hipermercado Kero, na província angolana de Benguela, um dos vários que compõem a rede apreendida pelo Estado angolano, numa movimentação travada pela Polícia Nacional por alegada desinformação, constatou a VOA. Informação de vagas alegadamente falsa animou centenas de pessoas.
Notícias que apontam para o início de um recrutamento, não desmentidas por responsáveis da loja, levaram potenciais candidatos, muitos com formação média, ao bairro do Casseque, arredores da cidade, à procura de emprego.
Com a gestão da rede de super e hipermercados Kero confiada à empresa Anseba, vencedora do concurso público realizado após a saída de cena dos generais Leopoldino Nascimento e Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, um recrutamento para Benguela estará na forja.
“Não conseguimos entrar, mas temos informação de que ontem receberam documentos. Todos querem sustentar a família, aqui ninguém é ‘burro’, a Polícia não pode nos falar em erro técnico a partir deles”, explica um ‘candidato’, enquanto o companheiro de fila afirma que “a Polícia está a barrar, tirando o nosso direito”.
Em momento de desespero, não importa a formação académica para aqueles que a têm, inclusive.
“Só queremos, primeiro, o tal recrutamento, depois podemos ser guardas, da limpeza ou jardineiros. Eles têm de dizer se nós somos angolanos ou não, isso está mal”, disse um dos potenciais candidatos,
No frente-a-frente com os agentes da Polícia que fecharam os portões do Kero Benguela, não faltaram analogias, poucos dias depois dos actos de violência na capital do país.
“A Polícia fugiu… depois vão querer culpar a UNITA, como já fizeram. Isso é o povo que está cansado”, afirmou um dos jovens à porta da loja.
Sem desmentidos nem confirmações, responsáveis do Kero prometem um esclarecimento público nas próximas horas.
A luta pela sobrevivência de famílias é visível no arranque de uma semana marcada por pronunciamentos do bispo da Diocese de Benguela, Dom António Francisco Jaca, em defesa do núcleo da sociedade.
“Se as famílias são saudáveis, a sociedade também será saudável, mas nós temos muitas famílias na miséria, desestruturadas, ao relento, sem o necessário para viver”, alertou o bispo na abertura oficial do ano pastoral para casais jovens, ocorrida no final de semana.