O Secretário-Geral do Conselho Islâmico de Angola (CONSIA) condenou hoje a aglomeração de muçulmanos, maioritariamente estrangeiros, no posto policial do Zango 4, em Luanda, que foram “buscar explicações” sobre detenções nos arredores de uma mesquita.
Em declarações à Lusa, David Já afirmou que os muçulmanos, a maioria da Guiné-Conacri, “não tentaram invadir” a esquadra operativa do Serviço de Migração Estrangeiro (SME), mas que foram apenas em busca de esclarecimentos sobre as motivações das detenções dos seus irmãos.
“Naquela sexta-feira os crentes muçulmanos saíam da mesquita e, então, cada um ia para o seu destino, mas infelizmente foram interpelados pelos agentes da polícia a poucos metros da mesquita e os outros se aperceberam da detenção dos irmãos e acorreram ali ao posto do SME”, disse o responsável.
As detenções de crentes muçulmanos aconteceram em 30 de junho, no Zango 4, município angolano de Viana, quando saíam de um culto na mesquita daquela circunscrição.
David Já referiu que a presença de efetivos da polícia e do SME nos arredores de mesquitas “tem sido recorrente às sextas-feiras”, que “montam barricadas à espera de muçulmanos”, que depois de “detidos são soltos em troca de alguns valores”.
“Não houve qualquer invasão, eles acorreram à esquadra após saírem da oração”, realçou o responsável do Consia sinalizando, ao mesmo tempo, que a ação do SME é de rotina para constatar a situação migratória dos cidadãos estrangeiros.
“A polícia tem de fazer o seu papel, mas também condenamos os nossos irmãos por terem ido até à polícia, não houve qualquer invasão porque não foram para lá com atos de vandalismo, foram apenas para procurar saber” porque estavam presos, rematou David Já.
O Consia, em comunicado assinado pelo seu líder nacional, Altino da Conceição Miguel, “reprovou e repudiou” igualmente a atividade dos muçulmanos que se dirigiram à esquadra em busca de satisfação exortando ao respeito às autoridades e instituições do Estado angolano.
Pelo menos quatro cidadãos estrangeiros, detidos na sequência dos atos, nomeadamente três guineenses e um serra leonês, foram julgados e condenamos sumariamente em 07 de julho a pena efetiva de um ano de prisão.
Segundo a polícia, os condenados foram detidos por “invadirem” o posto do SME para resgatarem dois cidadãos guineenses, detidos horas antes nas imediações da mesquita, por se encontrarem indocumentados.
O porta-voz da Direção de Investigação de Ilícitos Penas da Polícia Nacional, Quintino Ferreira, disse à Lusa que os cidadãos tentaram importunar os trabalhos do SME.
“Estes foram detidos e encaminhados ao tribunal onde foram julgados e quatro condenados a pena efetiva de um ano de prisão e pagamento de multa de 500 mil kwanzas”, explicou.
Quintino Ferreira deu conta igualmente que dois dos condenados poderão ser repatriados, no fim do cumprimento da pena, “caso não conseguirem provar a sua permanência legal no país”.
O Consia sugere às autoridades policiais angolanas para evitarem operações relacionadas com migrantes às sextas-feiras, por ser dia de culto e oração geral dos muçulmanos, sobretudo nos arredores das mesquitas.
Aconselha ainda os muçulmanos a contactarem o Consia em caso de violação da liberdade religiosa e recomenda calma e serenidade a todos e em especial aos muçulmanos condenados, prometendo solicitar o perdão da pena.