O Presidente do Conselho Islâmico de Moçambique (CISLAMO) anunciou hoje, em Luanda, que uma comissão internacional vai trabalhar em janeiro de 2024 na província de Cabo Delgado, visando “dialogar com os insurgentes” para alcançar a paz na região.
“Estamos a trabalhar nas várias vertentes, como (líder) religioso, como membro do Conselho de Estado e não só, nomeou-se uma comissão composta por membros de países vizinhos, também da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] e com alguns membros da comunidade europeia. Estamos a trabalhar neste sentido e já estivemos em Cabo Delgado também”, respondeu hoje o Sheikh Aminuddin Muhammad.
Falando no final de um culto na mesquita Ebad Al Rahman, no Distrito Urbano do Zango 0, município de Viana, em Luanda, onde cumpre uma jornada de trabalho, o responsável deu nota de que várias ações têm sido desenvolvidas em Cabo Delgado para a pacificação da região.
“Estudamos no terreno como vamos fazer e o nosso próximo passo, decidimos na semana passada, [será dado] em janeiro [de 2024]. Vamos para Cabo Delgado e o Governo também está a nos encorajar para ver se há alguma forma e um canal de diálogo com aqueles insurgentes, estamos a trabalhar neste sentido”, assegurou.
O Sheikh Aminuddin Muhammad, também membro do Conselho de Estado e presidente do Conselho das Religiões em Moçambique, salientou que o problema de Cabo Delgado “não é religioso” e que este emergiu em consequência da descoberta de recursos.
De acordo com o líder islâmico, os muçulmanos vivem em Moçambique há mais de mil anos, antes do domínio colonial, e nunca foram terroristas, mesmo após o país alcançar a independência, quase há 50 anos.
“O problema de Cabo Delgado só surgiu depois da descoberta dos recursos, então deve-se perguntar aos políticos porquê agora e não antes”, argumentou.
Em declarações aos jornalistas, o presidente do CISLAMO realçou que os muçulmanos vivem em todas as províncias de Moçambique e não apenas em Cabo Delgado, referindo que “se o terrorismo tivesse a ver alguma coisa com religião, todo Moçambique estaria afetado”.
“Mas as outras partes [do país] estão todas pacíficas e a história demonstra que éramos todos pacíficos”, rematou.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico e seus afiliados.
A insurgência levou a uma resposta militar, apoiada desde julho de 2021 pelo Ruanda e pela SADC, que permitiu libertar distritos junto aos projetos de gás, tendo surgido entretando novas vagas de ataques a sul de região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos, ACLED.