No século 21, o melhor programa anti pobreza que existe é uma educação de padrão mundial – Barack Obama.
Entretanto, o que é a Universidade? Algumas fontes de domínio público definem a universidade, como sendo uma instituição de ensino superior pluridisciplinar e de formação de quadros profissionais de nível superior, de investigação, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano.
Neste contexto, as expressões nível superior, investigação e extensão são aqui evidenciadas para despertar consciências, de modo a que, por via de alguma dúvida, todo indivíduo interessado em ingressar neste sistema de ensino sinta a necessidade de auto-avaliar-se antes da tomada de decisão definitiva.
Quem deve fazer a Universidade? Em Angola, torna-se cada vez mais crescente o número de indivíduos formados por universidades, indivíduos que com orgulho exibem a conquista de um diploma universitário, pois acreditam que por esta via tornar-se-ão úteis para a sociedade.
Portanto, embora seja legítimo o direito de ser-se formado, é notório a existência de uma má interpretação em Angola, da utilidade para sociedade de um indivíduo bem formado relativamente àquele que passou por uma universidade com o simples objectivo de obter o “canudo” e consciente de que tal formação não se vá traduzir em produtividade, ou seja, não vai agregar qualquer valor nem a si e nem aos que o rodeiam.
Fazer um curso superior universitário com o devido aproveitamento, requer uma panóplia de circunstâncias convergentes, que podem partir da capacidade cognitiva de um indivíduo à sua envolvente social, sem minimizar o esforço financeiro associado. Entenda-se, que a realidade de vida de muitos dos cidadãos angolanos é desfavorável, logo, torna-se inalcançável para estes indivíduos o grau de concentração e dedicação exigido no exercício de um curso ou formação académica universitária. Neste sentido, de onde parte a obrigação de fazer a universidade?
Importa realçar, que a universidade deve ser feita por qualquer indivíduo que reúna ao menos os requisitos essenciais (força de vontade, capacidade cognitiva e fonte de receitas financeiras), que seja capaz de encarar com seriedade a sua formação para no futuro servir de mais-valia para a sociedade. Felizmente, há talento para tudo e no bom sentido, é expectável que de forma individual os angolanos descubram o seu e o possam colocar em prática com uma visão alinhada voltada para a transformação, criação e inovação tecnológica, crescimento sustentável e desenvolvimento. Olhar para a universidade como único meio de inserção na sociedade ou para lhe aferir um certo status social pode não significar a longo prazo, um símbolo de destreza.
A geração de valor Note-se, que as grandes sociedades do mundo desenvolveram-se com o trabalho manual, sobretudo, o que está na base da aposta, investimento e desenvolvimento das formações profissionais. Apenas uma certa franja da sociedade faz a universidade. O poderio alcançado e bem firmado por estas sociedades nos diversos domínios profissionais está assente na prática constante e no princípio de fazer com excelência.
Em Angola, todas as profissões são necessárias e as já existentes ainda não são suficientes para servir o país à sua dimensão, que seja geográfica e demográfica. Sou de opinião, que esse facto constitui um privilégio, pois é demonstração de que há espaço para todos, porém, é necessário criar condições apropriadas para a promoção de um novo estilo de pensamento. É imperioso pensar que Angola precisa dos seus quadros, profissionalizados com competências técnicas bem específicas que vão permitir a autenticidade e dessa forma desenvolver uma cadeia de valor de serviços, paulatinamente.
Angola é um país muito promissor, terra em que os sonhos ainda têm espaço, já que muito ou quase tudo há por se realizar. Todavia, precisa de quadros, de indivíduos preparados e qualificados para continuar a edificar sem necessariamente ter de passar por uma universidade. A universidade, quando mal aproveitada pode ser a causa de retrocesso de uma nação, porque o longo período de ocupação a que a ela se submete pode inibir o desenvolvimento e a aplicação das habilidades naturais de um indivíduo noutro campo, onde ele melhor se desempenharia. O fundamental, é atingir o grau de escolaridade em que se saiba ler e escrever correctamente para possibilitar a absorção de conceitos teóricos e os bem colocar em prática.
À título de exemplo, as profissões técnicas de base não obrigam um estudo de ciência, mas requerem o acompanhamento de técnicos bem formados para transmitir os conhecimentos. Reflicta-se, como seria possível erguer uma infra-estrutura se se dependesse apenas do engenheiro civil e do arquitecto? A restante mão-de-obra, tanto é diversa como indispensável para a boa execução dessa obra e à semelhança do sector da construção e obras públicas, Angola dispõe de todos os outros sectores com a mesma necessidade de integração de quadros especializados. Quanto mais qualificações houver, menor será a necessidade de se importar know-how – conhecimento, que tem servido para atender até aquelas situações menos complexas e que portanto, poderia ser espaço ocupado por indivíduos locais.
Há no entanto, uma esperança de que com o comprometimento de cada cidadão com o país, o que se pode medir pelo contributo profissional prestado no dia-a-dia, as mudanças e melhorias que se almejam no modo de vida do povo angolano venham tornar-se uma realidade. Tem faltado realismo, e perceber que o epicentro da transformação de Angola é o próprio cidadão angolano, aquele que acredita no seu potencial e vai a luta, que conhece as suas limitações mas não teme a competitividade e respeita a concorrência, pois assim se alcança o óptimo numa sociedade.
Núria de Oliveira Krüse