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África: Modelo de financiamento usado pela China em África está a mudar, diz analista

O modelo de financiamento usado pela China em África, incluindo Angola, no qual as matérias-primas servem como garantia, “está a acabar”, disse hoje um analista, quando vários países africanos enfrentam uma crise de dívida.

“Acho que já está morto há algum tempo”, explicou à Lusa o chefe de pesquisa global no Instituto Mercator para os Estudos da China, Matt Ferchen, que tem sede em Berlim.

Ferchen é um dos principais analistas das relações entre a China e a América do Sul e acompanhou de perto a crise da dívida da Venezuela à China.

Angola e Venezuela são dois dos maiores devedores externos à China.

No total, o crédito concedido por Pequim à Venezuela ascende a cerca de 50 mil milhões de dólares (42 mil milhões de euros), ou cerca de 45% da totalidade dos empréstimos concedidos pela China à América do Sul. À medida que o país caiu numa profunda crise económica e social, cerca de metade desse valor continua por saldar.

Em África, Angola representa 31% do endividamento do continente para com a China e 41% de todo o serviço da dívida africana a credores oficiais chineses este ano, segundo diferentes estimativas.

Em ambos os países, o petróleo é o principal colateral para os empréstimos, concedidos sobretudo pelo Banco de Desenvolvimento da China ou o Banco de Importação e Exportação.

Segunda maior economia do mundo, a seguir aos Estados Unidos, a China é o maior importador de petróleo do planeta, uma dependência que implica riscos para a sua segurança energética.

No caso de Angola, os empréstimos concedidos por Pequim foram sobretudo destinados à construção de infraestruturas por empresas chinesas.

“Todo este modelo tem vindo a mudar desde há algum tempo”, destacou Matt Ferchen. “Os dias desses grandes empréstimos do CDB estão contados, se é que já não passaram”, explicou.

“O que vemos agora é muito mais atividade dos bancos comerciais chineses, de algumas das empresas de petróleo e outros, com uma gama muito mais ampla de financiamento”, descreveu.

O país asiático tem também mudado a sua preferência no que toca a fornecedores.

Em 2008, a China importava quase um terço do petróleo de três países africanos – Angola, República do Congo e Sudão. Mas o interesse pelos fornecedores africanos tem caído. Só em Angola, as importações chinesas caíram 18% ao longo da última década.

No ano passado, a China transferiu grande parte das suas compras de crude para a Arábia Saudita. As importações chinesas de petróleo bruto daquele país aumentaram quase 47%, face ao ano anterior.

A posição da Arábia Saudita como principal fornecedor da China é disputada pela Rússia, que tem vindo a cimentar os laços geopolíticos com Pequim.

Segundo a universidade norte-americana Johns Hopkins, o Governo, bancos e empresas da República Popular da China emprestaram cerca de 143 mil milhões de dólares (131 mil milhões de euros) aos países africanos, entre 2000 e 2017. Os governos africanos contraíram ainda mais de 55 mil milhões de dólares (50 mil milhões de euros) nos mercados internacionais de dívida, só nos últimos dois anos.

Numa altura em que a pandemia da covid-19 levou a uma queda dos preços do petróleo e desvalorizações cambiais, ao mesmo tempo que obriga ao investimento na saúde pública e apoio às empresas locais, os governos africanos pediram uma moratória da dívida externa e, eventualmente, perdão de dívidas aos credores internacionais.

O país asiático tem cooperado com os países do grupo do G20 para conceder um alívio à dívida do continente, mas a decisão de deixar de fora das negociações o Bando de Desenvolvimento da China, que é um banco comercial estatal, foi alvo de críticas de outras partes envolvidas nas negociações.

Designado Suspensão do Serviço de Dívida (Debt Service Suspension Initiative, DSSI no acrónimo), o acordo no âmbito do G20 inclui apenas bancos de investimento.

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