Jornalistas lusófonos comemoram escolha de dois profissionais de imprensa ao Prémio Nobel da Paz. Moçambicano Lázaro Mabunda e angolano Salgueiro Vicente acham que o reconhecimento incentiva a classe a nível global.
Jornalistas lusófonos em África consideram que o Prémio Nobel da Paz aos jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia, encoraja outros profissionais de imprensa pelo mundo.
Os vencedores do Prémio Nobel da Paz 2021 foram divulgados esta sexta-feira (08.10). O Comité Nobel Norueguês justificou a distinção a Ressa e Muratov citando a “corajosa luta” dos profissionais “pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia”.
O moçambicano Lázaro Mabunda considera o reconhecimento aos jornalistas uma “chama de esperança” para a classe em todo o mundo,“na luta que temos vindo a travar nos nossos países, sobretudo contra os regimes bastante fortes e repressores que tentam manietar jornalistas a todo o custo para se perpetuarem no poder”, disse Mabunda.
Regressão em África
Em muitos dos países lusófonos em África, a liberdade de expressão e o acesso à informação para os jornalistas têm vindo a regredir.
Segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), Angola é um dos piores países no que toca à liberdade de imprensa no continente. Salgueiro Vicente, da emissora católica Eclésia, considera que os governos dos países de expressão portuguesa em África devem compreender que os jornalistas não são para eles uma ameaça.
“Os jornalistas são os verdadeiros parceiros para o desenvolvimento dos seus países e do Estado de direito democrático. É preciso maior tolerância e permitir que os jornalistas façam o seu trabalho, porque a única arma que têm é a informação”, opina o jornalista angolano.
Vicente lembra que os jornalistas contribuem para as suas sociedades ao “tornar as pessoas bem informadas sobre o que se passa ao seu redor”.
Conselho aos jornalistas
Havia 329 candidatos para o Prémio Nobel da Paz em 2021, dos quais 234 eram indivíduos, e 95 organizações. Em relação ao ano passado, houve mais 12 candidaturas.
Dmitry Muratov, de 59 anos, é um dos fundadores do jornal russo Novaya Gazeta. E a filipino-americana Maria Ressa, de 58 anos, é cofundadora da Rappler, um meio de comunicação social de investigação, que se dedica a denunciar abusos de poder nas Filipinas.
Para o Comité Nobel Norueguês, os dois jornalistas representam “todos os jornalistas que defendem este ideal num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”.
Mabunda aconselha muita coragem aos jornalistas com vista a fazer face “as barreiras” impostas pelos regimes. “Se os jornalistas não forem corajosos, os nossos países não serão aquilo que esperamos que sejam no futuro”, adverte o moçambicano.
Colegas assassinados
Depois do anúncio da premiação, o jornalista russo, Dmitry Muratov, dedicou a distinção aos seus colegas que perderam a vida pelo seu trabalho de investigação, num país, onde a liberdade de imprensa está ameaçada. “Não é um mérito meu, pessoal. É da Novaya Gazeta. É mérito daqueles que morreram a defender o direito das pessoas à liberdade de expressão”.
O jornal Novaya Gazeta foi fundado em 1993, e nos últimos anos publicou investigações sobre as atividades de grupos paramilitares russos e sobre a perseguição das minorias sexuais na Chechénia.
Maria Ressa, a co-vencedora do Nobel da Paz, defendeu, numa entrevista transmitida em direto pelo seu jornal digital, maior acesso à informação. “Penso que isso mostra que o Comité do Prémio Nobel da Paz percebeu que um mundo sem factos significa um mundo sem verdade e confiança. Quando se ataca a imprensa, muitas vezes é disparar contra o mensageiro”, disse Ressa.
O secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire comemorou a escolha porque se trata de uma “mensagem muito forte” a favor do jornalismo. “Uma grande homenagem a dois jornalistas que representam o conjunto dos jornalistas que correm riscos na defesa do direito à informação”.