Afrobarómetro: “Muitos angolanos não consideram Angola uma democracia”

Estudo do Afrobarómetro mostra ainda que quatro em dez angolanos consideram que a luta contra a corrupção é um pretexto do Presidente João Lourenço para afastar adversários políticos. Maioria dos angolanos não acredita que vive em uma democracia.

40% dos angolanos não vêem o seu país como uma democracia completa, apesar de 37% considerarem que o regime democrático é o melhor para governar um país. Os dados são do relatório do Afrobarómetro divulgado nesta quinta-feira (07.10) no Fórum Angola 2021: Opções políticas para apoiar a recuperação económica em Angola.

O pesquisador e coordenador da recolha de dados, Carlos Pacatolo, sublinhou que os resultados são alarmantes e que “nos devem levar a pensar” sobre o regime que está instaurado.

Pacatolo ressaltou a importância do facto de 17% dos entrevistados não terem sabido responder à pergunta sobre o regime que preferiam. Segundo o pesquisador, trata-se possivelmente da consequência do analfabetismo político e da falta de acesso a informação. Apenas 21% da população do país tem acesso à internet.

A pesquisa, realizada em 2019 com 2.400 angolanos adultos selecionados de forma aleatória, mostra que 70% não aprovam que apenas um partido se candidate a eleições e governe. 60% dos entrevistados rejeitaram categoricamente um governo militar.

Gestão atual

Quando a pesquisa foi realizada, em 2019, o Governo de João Lourenço estava há dois anos no poder. Questionados sobre como avaliavam a gestão dos últimos doze meses, as opiniões dos entrevistados dividem-se: 46% aprovaram e 43% desaprovaram. 11% recusaram responder ou não tinham opinião. Apenas um em cada dez angolanos considerou que o Governo estava a lidar bem com matérias de gestão tais como economia, melhoria do padrão de vida dos pobres, criação de emprego, etc.

Gestão de João Lourenço divide opiniões

Quatro em cada dez entrevistados consideram que a luta contra a corrupção é um instrumento usado pelo Presidente para afastar os seus adversários políticos dentro do partido governamental Movimento pela Libertação de Angola (MPLA).

Uma maioria acredita que os tribunais angolanos tomam decisões que favorecem algumas pessoas ou partidos políticos. Além disso, quatro em cada dez inquiridos consideram que não há um tratamento igual de todos na aplicação da lei.

O pesquisador Pacatolo diz que “o envolvimento político dos angolanos é muito baixo”. Prova disso é que apesar de 68% terem participado nas últimas eleições, a maioria não discute sobre o tema com familiares e amigos.

Afrobarômetro

A autora Paula Cristina Roque considera que a pesquisa realizada pelo Afrobarómetro é um contributo essencial para que a reflexão sobre a governação e a democracia  deixe de ser feita exclusivamente por  “estudiosos e políticos” e passe a ser assunto de reflexão também para a população.

A pesquisadora ressalta que os resultados da próxima sondagem, que começará a ser feita em novembro deste ano, trarão outras perceções como consequência da pandemia da Covid-19.

O Afrobarómetro é realizado bianualmente. Ao todo, 39 países africanos são abrangidos pelo projeto de pesquisa, tendo Angola sido o último a ser incluído.

 

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