A República Democrática do Congo está novamente mergulhada numa crise política que pode culminar com eleições antecipadas. Luanda pode ter papel crucial na manutenção da estabilidade, evitando que a situação se alastre.
A crise na República Democrática do Congo (RDC), país que partilha fronteira com Angola, é motivada pelas clivagens cíclicas entre o FCC, do ex-Presidente Joseph Kabila, e a coligação CACH, do Presidente Félix Tshisekedi. Desde as eleições de dezembro de 2018 que estava à vista uma ruptura entre as forças políticas apoiantes de Kabila, ex-Presidente, e do seu sucessor Félix Tchisekedi.
O pacto de Governo, através de um acordo secreto, permitiu a partilha de poderes e acomodação de políticos leiais a Kabila no Governo de Tshisekedi. Agora, com o fim desta coligação governamental, a tensão na RDC começa a subir de tom e Angola vê-se obrigada a intervir, segundo explica o jornalista Armindo Laureano, diretor do Novo Jornal.
“A questão da estabilidade económica, política e social do Congo é algo que preocupa Angola. E o que acontece com Tshisekedi é que percebe que Kabila ainda tem uma grande influência política, económica e social na RDC”, diz.
“Um colega meu dizia que Kabila tem ambição de ser uma espécie de Putin da RDC, tem ambições de poder e que a presença de Tshisekedi era apenas para fazer uma alternância”, comenta ainda Armindo Laureano.
Angola do lado de Tshisekedi?
A decisão de Félix Tshisekedi surge duas semanas depois de ter escalado Luanda, onde se reuniu à porta fechada com o seu homólogo angolano João Lourenço. No Palácio da Colina, na Cidade Alta, o líder congolês terá recebido garantias claras de que Luanda estará do seu lado. De contrário, explica Armindo Laureano, Tshisekedi não teria ido mais longe na sua decisão, tomada no último domingo (06.12).
“Penso que os últimos acontecimentos, o facto de os dois países estarem a reforçar a cooperação militar, os exercícios que foram feitos, acabaram por preocupar. Porque há toda necessidade de o governo de João Lourenço de manter uma aliança com a RDC”, afirma o jornalista.
Mas o professor de Relações Internacionais Osvaldo Mboco entende que o Presidente angolano “não é um interlocutor válido” para a saída da crise na RDC. “Não nos podemos esquecer que Angola foi um dos países que mais pressionou para a realização das eleições na República Democrática do Congo, quando o Presidente Kabila na altura fazia manobras dilatórias”, lembra.
Intervenção num conflito interno
A que preço pode Angola intervir num conflito interno de um Governo estrangeiro? “Podia ser, entre aspas, arrastado a entrar”, responde Laureano. “Com a fronteira que nós temos, um conflito na RDC criaria um fluxo de refugiados para o nosso país e os estados agem na questão da defesa dos seus interesses.”
“Não esquecemos que depois que tomou posse, o primeiro país que Tshisekedi visitou foi Angola. Atenção que quando falo intervenção não falo necessariamente a intervenção militar. Depois há que ponderar para depois os países não serem obrigados a ter uma outra ação que não seja a diplomática”, destaca o jornalista.
De momento, Luanda mantém-se em silêncio sobre a crise interna em Kinshasa. Fontes militares ouvidas pela DW avançam que Angola já terá enviado um contingente e especialistas militares para a RDC, a pedido do Presidente Tshisekedi. A DW tentou ouvir o Ministério das Relações Exteriores (MIREX), sem sucesso.