Angola 2021: “Dos congressos ao processo de reconciliação, com aumento da repressão e fome”

A luta contra a corrupção revelou um dos os maiores escândalos financeiros de sempre, envolvendo mais de meia centena de militares ligados à Presidência.

Os congressos dos dois principais partidos angolanos, o MPLA e a UNITA, o início da vacinação contra a Covid-19 e a conclusão do processo de paz e reconciliação dos angolanos, que se traduziu na entrega das ossadas e a emissão de certidões de óbito aos familiares dos angolanos mortos em resultado do conflito armado, marcaram o ano de 2021, na opinião de analistas ouvidos pela VOA.

Também foi o ano em que o Governo anunciou o retorno para os cofres do Estado de apenas13 mil milhões dos mais de 50 mil milhões de dólares desviados por servidores públicos durante o consulado de José Eduardo dos Santos.

O surgimento de uma nova plataforma política para fazer frente ao partido no poder, o MPLA, nas eleições previstas para 2022, também faz parte dos eventos políticos registados em 2021.

Trata-se da Frente Patriótica Unida (FPU) liderada pelo presidente eleito no mais recente congresso da UNITA, Adalberto Júnior, e integrada pelo líder do projecto Pra Já-Servir Angola Abel Chivukuvuku e pelo presidente do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes.

O combate à corrupção iniciado pelo actual Presidente angolano revelou, no decurso deste ano, um dos maiores escândalos financeiros de sempre, envolvendo mais de meia centena de altas patentes das Forças armadas e da Segurança do Estado, ligadas à Presidência da República.

2021 também testemunhou a inauguração do maior Complexo Hospitalar de Doenças Cardio-Pulmonaresa que foi dado o nome de “Cardeal Dom Alexandre do Nascimento”.

O ano que termina também foi marcado pela contínua repressão das manifestações pacíficas em Angola, registo de mortes por fome, aumento do custo de vida e por alegadas interferências do poder político nas decisões dos tribunais.

A polícia angolana reprimiu uma manifestação popular e abateu a tiros cidadãos na vila de Cafunfo, na província diamantífera da Lunda-Norte, que pretendiam exigir melhor atenção do Governo aos problemas da região.

A acção mereceu o maior repúdio nacional e observações da União Europeia por atentar contra os direitos humanos.

Analistas da VOA consideram que muitos episódios que marcaram o ano pela negativa teriam sido evitados se o Governo se enveredasse pelo diálogo permanente com os seus opositores e com uma sociedade civil cada vez mais atenta e activa na defesa dos seus direitos e pelo respeito à Constituição do país.

O investigador Fernando Guelengue começa por destacar o acórdão judicial que anulou o congresso da UNITA que tinha eleito Adalberto Costa Júnior para presidente.

Guelengue diz que, por outro lado, as viagens externas do Presidente prejudicaram os cofres do Estado e que a morte de crianças por fome foi o episódio mais dramático da governação do MPLA.

Fome e a pobreza são, na visão do activista Geremias Benedito, “Dito Dali”, os assuntos que mais marcaram o ano de 2021.

Para ele, as viagens do Presidente da República não trouxeram os investimentos esperados que deviam contribuir para a criação de emprego para a juventude.

Durante o ano de 2021 “o Presidente angolano desdobrou-se em viagens ao estrangeiro, descritas pelo Governo como visando atrair oinvestimento externo, com deslocações à França, Espanha, Dubai, Turquia e mais recentemente aos Emirados Árabes Unidos”.

João Lourenço também representou Angola em alguns eventos mundiais como a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, a cimeira virtual sobre a democracia organizada pelo Presidente dos EUA e a conferência sobre clima realizada em Glasgow, naEscócia.

 

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