A TPA e a TV Zimbo, nos seus respectivos serviços noticiosos das 20h00, de ontem, 16 de Novembro, informaram que Angola faz parte dos países africanos melhor colocados em matéria de governação em África, em referência à edição 2020 do Índice Ibrahim para a Boa Governação em África.
É evidente que tal informação, para além de ser uma mentira deslavada do Governo, deve remeter-nos ao Índice. Na tabela geral, Angola continua na lista dos piores países, ao lado de países como Guiné-Bissau, Djibouti, Burundi República do Congo, Líbia, Chade, Sudão, República Democrática do Congo e República Centro Africana. Angola ocupa a posição 43 e com a pontuação 40.0. É o pior entre os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). E é dos piores da SADC (Southern Africa Development Community [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral]).
O índice, que é resultado de um metódico, exaustivo e rigoroso processo científico e técnico, desenvolvido por cientistas sociais de diversos países africanos e não só, funciona de acordo com os seguintes pilares operacionais: 1. Segurança e Estado de Direito; 2. Participação, Direitos e Inclusão; 3. Bases para Oportunidades Económicas; 4. Desenvolvimento Humano.
Cada um dos pilares compreende categorias temáticas diversas e, para cada uma existem vários indicadores e instrumentos técnico-científicos para a recolha de dados no terreno. O processo de recolha de dados dá lugar ao de análise de dados e assim por diante até que a equipa de redacção escreve o relatório e, então, o Índice é publicado. Da recolha de dados à publicação, o processo leva um ano.
Na edição 2020, na tabela Geral temos as primeiras 10 posições ocupadas pelos seguintes países: (1) Ilhas Maurícias; (2) Cabo Verde; (3) Seychelles; (4) Tunísia (5) Botsuana; (6) África do Sul; (7) Namíbia; (8) Gana; (9) Senegal e (10) Marrocos.
Como se pode notar, a notícia da TPA e da TV Zimbo é mentirosa. Angola, na posição 43 da tabela geral, junto com outros 7 países, deu passos positivos no período que vai de 2017 a 2019, o que significa que os retrocessos de 2020 não foram ainda abrangidos (na edição 2021, o relatório do Índice trará os dados de 2020). É isto o que tanto a TPA quanto a TV Zimbo deveriam noticiar.
Os cidadãos e cidadãs só precisam fazer contas simples. Se são 54 países abrangidos, e Angola ocupa a posição 43, atrás da Guiné-Bissau (41) e do Djibouti (42), de onde o Governo tirou a informação de que Angola faz parte de um selecto grupo constituído pelos países africanos com a melhor governação?
Nota: conheço todo o processo científico e técnico e toda a máquina metodológica do Índice Ibrahim, pois, faço parte da equipa técnica internacional (de cerca de 100 especialistas) que concebeu e executou o projecto de recolha de dados, de verificação e análise de dados, de pré-classificação etc.
Nuno Álvaro Dala