O político angolano Abel Chivukuvuku alertou hoje para “preocupantes sinais de intolerância” política em Angola, numa altura em que o país prepara eleições gerais, e sublinhou que sair do poder “não é o fim”.
O ex-dirigente da UNITA, principal partido da oposição angolana, que foi também presidente da coligação CASA-CE e atualmente lidera o projeto político PRA-JÁ Servir Angola, falava após um encontro, em Lunda, com a comissão organizadora do congresso “Pensar Angola”, entre os quais o empresário Francisco Viana e o ex-primeiro-ministro Marcolino Moco.
“Começam a surgir sinais preocupantes de intolerância e dificuldade de aceitação recíproca da diferença”, alertou Chivukuvuku, aludindo ao caso recente de confrontos em Sanza Pombo, província do Uíje, envolvendo militantes do partido do poder, MPLA, e da UNITA, que têm trocado acusações sobre as respetivas responsabilidades nos atos violentos.
Chivukuvuku sublinhou que “cada um tem o direito de livre escolha” que “deve ser respeitado” e considerou, por isso, que é importante realizar um fórum onde se possa discutir “sem tabus e sem coação”.
“Todos nós queremos o bem do país e a questão do exercício do poder político não devia ser visto como um fim em si próprio, mas apenas como uma plataforma para realizar uma obra, essa obra é Angola e os angolanos”, salientou.
Além de presidente do projeto político PRA-JÁ Servir Angola (cujo processo de legalização do partido foi chumbado pelo Tribunal Constitucional), Chivukuvuku integra atualmente a Frente Patriótica Unida, movimento onde pontificam também o líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, e do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, e que pretende disputar as eleições gerais prevista para agosto deste ano.
Para Chivukuvuku, o congresso “Pensar Angola” pode contribuir para diminuir a possibilidade de tensão: “É verdade que, quando há disputa há sempre tensão, mas tem de ser tensão tolerável e aceitável”, prosseguiu, considerando necessário ter um entendimento “para que as pessoas não pensem que sair do poder é o fim da vida”.
“Não é, a alternância só faz bem. No dia em que voltarem ao governo — se voltarem – voltam já com comportamento diferente. Vão aprender e será útil”, complementou.
“Precisamos de diminuir esse ambiente de tensão, há famílias a dizer que querem mandar os filhos para Portugal. Não é preciso, podemos trabalhar para que a mudança seja pacífica, ordeira e o resultado seja o crescimento e o bem do país. Temos de encontrar formas de dirimir as nossas diferenças”, apelou.
O “Congresso da Nação. Pensar Angola”, realiza-se em 27 e 28 de maio, em Viana (arredores de Luanda).
Da comissão organizadora fazem parte o ex-primeiro-ministro angolano Marcolino Moco, académicos e o músico Eduardo Paim, que defendem um “projeto de consenso” para o país.
A comissão organizadora aponta os “momentos de grande indefinição, instabilidade e grave crise económica e social” por que Angola está a passar após 46 anos de independência e diz que as eleições são também uma oportunidade para elevar as condições do país.
Contribuir para um projeto comum em prol de uma Angola mais inclusiva, solidária e democrática, para um melhor esclarecimento, pré-eleitoral, sobre as propostas das forças políticas concorrentes à governação para o mandato de 2022 a 2027, e para a criação de um ambiente de paz e concórdia, pré e pós-eleitoral e para um processo eleitoral transparente, justo e tranquilo são os objetivos do congresso.
A iniciativa pretende congregar representantes de comunidades angolanas, de todo o país e da diáspora, partidos políticos, ativistas, sociedade civil, instituições religiosas, especialistas, autoridades tradicionais, entre outros parceiros.