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Angola: Analista teme que “contestação” dificulte governação do Presidente da República, João Lourenço

Escritores e analistas angolanos prevêm um mandato conturbado para o antigo e novo Presidente angolano, João Lourenço, sobretudo por causa da insatisfação da população com a situação no país.

O Presidente da República de Angola, João Lourenço, vai ter de se confrontar, neste seu segundo mandato, com protestos dos movimentos cívicos e de cidadãos angolanos descontentes com a governação no país, afirma o escritor angolano Jacques Arlindo dos Santos em entrevista à DW África.

“Vai ser difícil governar com tanta onda de contestação, principalmente em Luanda onde está concentrado o poder político, onde estão concentradas as maiores forças do país e onde a derrota do [Movimento Popular de Libertação de Angola] MPLA foi copiosa”, diz o escritor.

Jacques dos Santos recomenda o recurso ao diálogo para aproximar as forças políticas em torno daquilo que são as ideias corretas dos interesses da nação angolana.

O escritor diz que, há cinco anos, foi dos mais acérrimos defensores de João Lourenço, pela coragem que o Presidente agora reeleito demonstrou então em modificar o “status quo”, nomeadamente no combate à corrupção.

Mas lamenta que “entrámos num regime praticamente autocrático”, acrescentando que “não tenho motivos para estar muito animado, ao menos que surjam factos concretos, que as promessas sejam de facto postas em prática”.

A esperança é a útlima a morrer

“A esperança é a última a morrer”, diz o escritor, autor do livro “República de Santa Bárbara”, lançado na última edição da Feira do Livro, de Lisboa. A obra evoca o passado colonial, mas também a África que o colonialismo deixou às elites dirigentes africanas e que tenta agora construir-se, como é caso de Angola e Moçambique.

A dificuldades extremas que se vive nestes países, que incluem a Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, inspiraram o escritor a ficcionar a realidade no continente africano, particularizando o caso de Angola.

Para do Santos, a realidade não deixa dúvidas quanto à frustração dos povos nesses países por não terem conseguido chegar ao sonho que alimentaram com a independência de “criar um país livre, inclusivo e bom para os seus cidadãos”.

A obra é uma espécie de desabafo do autor, que rejeita as explicações dadas pelos governantes pelas difiiculdades que vivem os povos.

“A corrupção mantém-se vibrante e firme nos seus desígnios”, afirma Jacques dos Santos, “sem que se tenha um pouco de compaixão pelas grandes massas populares que sofrem atrozmente”.

“Infelizmente, para os graves crimes e erros que são permanentemente cometidos aparece sempre a desculpa do colonialismo”, diz o escritor, reconhecendo embora que “o colonialismo deixou marcas muito vincadas difíceis de ultrapassar”.

Democracia precisa-se

De acordo com Jacques dos Santos, a democracia ainda é uma miragem em Angola. O país tem muitas deficiências. Uma delas é a prisão arbitrária e perseguição de angolanos que protestam nas ruas contra as políticas de governação.

“Ainda recentemente recebi um telefonema de uma pessoa em quem acredito piamente de que estão a acontecer prisões arbitrárias em todo o país”, conta dos Santos, para quem o que está acontecer em Angola “é extremamente negativo, porque as pessoas não estão a cometer crimes. Estão simplesmente a reivindicar os seus direitos, estão simplesmente a manifestar aquilo que pensam”.

O escritor lança um apelo às autoridades angolanas, que, diz, “não podem continuar a agir assim”, porque “perdem crédito e correm o risco destas políticas de repressão se virarem contra si”.

Jacques dos Santos acredita que este poderá ser o último ciclo do MPLA no poder: “A menos que se verifique imediatamente uma inversão nas posições assumidas pelo MPLA”, avisa.

Acha, por conseguinte, que o partido no poder “parece ter um medo incrível” das já anunciadas eleições autárquicas“porque sabe que vai perder terreno”.

Maus perdedores

Em entrevista à DW África, na sede da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em Lisboa, Lopito Feijóo olha para o período pós eleitoral em Angola com alguma serenidade, por não se ter materializado o pior.

“São resquícios de um confronto, de um possível banho de sangue, mas que, afinal, não se efetivou. Havia evidências desse banho de sangue, porque nós em África, de uma maneira em geral, somos maus perdedores”, considera Feijóo.

Para o também escritor angolano, “às vezes, quando ganhamos, esquecemos que quem ganha não ganha tudo e quem perde não perde tudo. Os que perdem ganham também e os que ganham têm cedências a fazer”.

Feijóo sustenta que o processo eleitoral “foi límpido e exemplar mais do que nunca”, mas a principal dificuldade foi aceitar os resultados. E não antevê, nesta fase, uma onda de protestos que ponha em causa o mandato de João Lourenço.

“Garanto-lhe que não, porquanto o facto da oposição ter tomado assento nas instituições, principalmente no nosso parlamento, o facto, inclusive, do presidente do maior partido da oposição [UNITA] ter tomado posse no Conselho da República, isso é muito positivo”, analisa Lopito Feijóo.

Formar o ‘homem novo’

Lopito Feijóo lançou, recentemente, em Lisboa, “Doutrina dos Pitós”, um novo investimento que faz para promover a literatura infantil, por registar uma lacuna nesta área.

O escritor encontrou na literatura uma forma de educar e formar  o “homem novo” em Angola, para que ele aprenda a saber ganhar e perder em democracia.

“O autor nunca é um escritor da UNITA, escritor do MLSTP, escritor da FRELIMO, escritor do MPLA ou escritor da RENAMO”, diz Lopito Feijóo. “O escritor é, pura e simplesmente, escritor e tem um papel de formador e transformador das consciências dos seus leitores”.

 

 

 

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