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Angola: As manifestações e o efeito bola de neve

O comandante provincial da PN na Huíla está a ser amplamente elogiado por ter permitido a realização de uma manifestação de protesto no Lubango, que decorreu, ao que consta, sem incidentes.

O comissário Divaldo Martins (DM), uma pessoa que conheço pessoalmente tem a mente arejada, fez a diferença em relação aos demais comandantes desse órgão policial que, nas distintas províncias do país, mandaram reprimir e surrar os manifestantes, enfiando-lhes depois em celas bafientas.

Alguns internautas associaram a postura de DM ao facto de ele ser detentor de uma formação superior em Ciências Policiais feitas no Instituto Superior afim em Portugal. Não é o único que lá se formou. Pelo que sei, os comandantes do Huambo e Benguela tiveram a mesma formação naquela instituição policial, e há relatos assustadores vindos daquelas províncias.

O problema não está na qualidade da formação académica, mas na Honestidade Intelectual e nos propósitos que eles servem. Adão de Almeida (AM) é um brilhante jurista talhado em questões de Direito Constitucional, está rodeado de bons quadros. O PR está rodeado de muitos juristas, pelo que não acredito que eles não saibam que o estado de Calamidade não pode restringir os direitos fundamentais contidos na CRA.

Na tuga, onde eles foram beber os ensinamentos, ou copiar os modelos sabem que, até há poucos dias, vigorou o estado de Calamidade, e as manifestações não foram proibidas, incluindo as que eram contra o uso da máscara.

Sintomaticamente, a tuga tem mais infectados e mortos da Covid-19 do que Angola, e um sistema de saúde que deixa o angolano a «milhas» de distância mas, nem com isso, os tugas fizeram tábua rasa as leis.

O problema é que os nossos juristas para defender o sistema no qual estão inseridos esquecem-se, ou mandam às urtigas a ciência e academia.

Em boa verdade, DM teve uma atitude positiva e inteligente, partindo do princípio que as repressões às manifestações são mais Ruidosas que as manifestações em si, além disso fazem «incardir» a imagem do regime fora de portas. Passou tbm a ideia que é possível realizar as manifestações de forma Organizada, conversando com os manifestantes, ao invés de fechar-lhes às portas ao diálogo. Mas, convém não perder de vista que foi uma atitude de Risco.

Espero que não tenha «autorizado» a manifestação, de forma a vender uma imagem condescendente do regime que, de quando em vez, procura passar a ideia ao estrangeiro que as liberdades individuais e colectivas são respeitadas em Angola, como ocorreu em tempos com a manifestação dos Médicos, em pleno estado de Calamidade.

O maior receio do poder, ao que me parece, não são as manifestações em si, mas o efeito BOLA de NEVE que podem causar. Quanto mais pacíficas forem as manifestações, elas poderão arrastar mais pessoas para as ruas, com todas as consequências daí decorrentes…

Depois da manifestação PACÍFICA do Lubango, estará DM preparado para outra manifestação com mais aderentes, já que estes poderão sair à rua, sem o receio de que venham a ser surrados pela polícia?

Ilidio Manuel

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