Famílias desalojadas do bairro das Salinas, na cidade angolana de Benguela, fecharam parte da estrada de acesso à vila da Baía Farta, nesta segunda-feira, numa barricada com pedras, pneus e carcaças de carros abandonados, em protestos devido a um conflicto de terras com um batalhão especial de antigos militares. Zona para onde foram enviados os deslocados é reclamada por antigos militares.
Ao abrigo do acordo extra-judicial com a Administração Municipal de Benguela, , os ex-moradores das Salinas deixaram o edifício abandonado do magistério Lúcio Lara, onde estiverem um ano e seis meses em condições díficeis , mas o espaço eleito para a autoconstrução dirigida é ocupado por desmobilizados.
A dois quilómetros da escola que serviu de albergue após a destruição do bairro, a 24 de Junho de 2020, as famílias estão a ser empurradas por membros de um batalhão com mais de seiscentos homens, supostos proprietários da área que as autoridades tencionam urbanizar.
Cinco dias depois da mudança, João Valeriano, porta-voz das 359 famílias, defende acção das autoridades e justifica os protestos.
“Esse é o descontentamento do povo, estamos fora, a viver na rua , há muito tempo”, disse, sublinhando que foi o governo que os enviou para esta zona.
“Se o Governo é que nos mandou para cá … então vamos voltar às Salinas, vamos morrer lá porque quando nos desalojaram foram muitos homens com cães e cavalos, hoje não nos defendem, só estão dois agentes”, disse Valeriano em referência a dois agentes da polícia enviados para o local onde mais de cinquenta desmobilizados com objectos e ameaças de morte.
“Levaram mocas, ferros e facas e deram corrida às pessoas, inclusive deitaram o feijão de uma senhora que já está a sofrer”, disse uma das deslocadas Maria Japa.
“Não entendemos porque a Administração é que nos meteu aqui”, conta a cidadã, sublinhando que “as pessoas receberam ameaças de morte à uma da manhã”.
Os antigos moradores das Salinas, à espera de apoios da Administração Municipal para a construção das suas moradias, à luz do acordo, tiveram de pernoitar bem ao lado da estrada Benguela/Baía Farta, em tendas com fissuras em sucatas de viaturas ou mesmo ao ar livre.
Técnicos da Administração de Benguela são vistos frequentemente no local, à conversa com antigos “salineiros” e integrantes do batalhão de desmobilizados, mas não prestam declarações.