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Angola: Bispo do Luena chama “atenção de polícias que praticaram execuções sumárias sem crime cometido no Cafunfo”

A violência inaudita que assistimos nos vídeos de Cafunfu no dia de ontem, sábado, com toda a dose de agressão e morte, de desrespeito a vivos e defuntos, por quem devia proteger esses cidadãos, é um contrassenso. Nada pode justificar esse tipo de “execuções sumárias sem crime cometido”.

Os que lutaram pela independência, que sacrificaram as suas vidas por este país, que diriam se forem confrontados com esse cenário macabro?

Há MCS que deveriam mostrar os actos cometidos com verdadeira indignação, mas, em vez disso, mascaram os factos, “absolvendo os culpados e condenando inocentes”? (cfr. Dn13, 53)

Na verdade, é o resultado do quotidiano do Leste de Angola: não se quer dar ouvidos ao grito de um povo que vive na miséria e vê os minérios e a madeira a sair, sem usufruir nada. Não se quer ver desnutrição das crianças, a falta de água, de estradas, de condições para os professores e para os médicos, a falta de hospitais, de medicamentos, de combustível, de transporte, de oportunidades de um estudo de qualidade, de oportunidades de trabalho… carências que existem um pouco por toda a parte, mas que aqui se multiplicam exponencialmente. Livros poderia escrever com tudo o que já vi nesta porção do Leste de Angola! Dá a impressão que esta situação não interessa a quase ninguém; enquanto uns poucos enriquecem sem que se saiba qual é a origem de tanta fortuna. Há muito tempo estamos a falar de tudo isto, até ao cansaço: somos semelhantes a um sino rachado, cuja música não já não se ouve.

Parece que estamos perante a um caso de lepra moral: quem devia, não sente, não se comove, não reage. Pratica-se a política do avestruz: quando vê o perigo, esconde a cabeça num buraco. Não vê. Essa cegueira e essa insensibilidade, por mais cultas e educadas que sejam, são uma forma refinada de violência.

Poucos anos atrás, verificamos, com esperança, uma certa abertura dos MCS públicos: hoje, voltaram aos velhos hábitos. Deveriam mostrar o que está a acontecer, para que este povo possa crescer, mas não o fazem, antes, pelo contrário…

Os polícias? O exército? Não se pode generalizar, mas alguns esqueceram que são povo, que nas suas casas, os seus filhos passam as mesmas carências dos filhos dos que eles batem, dos que eles matam. Chegaram até a agredir os mortos, descarregando neles as próprias frustrações. Em nome de Jesus: parem de matar!

Estamos perante um cenário nada encorajador.

Precisa, com humildade, reconhecer os crimes, e que os culpados assumam as suas responsabilidades. Infelizmente, a vida humana não se pode compensar nem reparar.

Precisa uma mudança de atitude dos MCS: que deem a voz ao povo, que mostrem o que deve mudar, para ajudar a quem governa e aos que somos governados.

Precisa também uma mudança de quem governa: deve criar mecanismos de diálogo, deve estar mais próximo das populações, deve sentir como próprias as suas carências. E, sobretudo, deverá dar respostas eficazes, com todos os meios disponíveis ao seu alcance: com miséria não há paz. É preciso amar mais o povo que a própria cadeira, fazer acontecer, para que as pessoas voltem a acreditar no seu país, nas instituições, nos seus governantes.

Sabemos que nesse dia 30 de Janeiro abriram-se feridas profundas que não cicatrizarão facilmente, mas empreender um caminho de violência não conduzirá a lugar nenhum, antes, pelo contrário. Por isso, oro e farei rezar para que o Senhor nos ilumine para que possamos viver em paz, uma paz justa e duradoura.”

Dom Tirso Blanco, Bispo da Diocesse do Lwena/Moxico.

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