Uma estrada impraticável, onde nem os camionistas querem ir, falta de energia e de água são algumas das dificuldades apontadas pelos empresários da vila mineira de Cafunfo, na província angolana da Lunda Norte, que condicionam o investimento local.
Os empresários juntam-se assim aos cerca de 170 mil moradores de Cafunfo, a vila mineira da Luanda Norte onde, a 30 de janeiro de 2021, várias pessoas perderam a vida durante uma manifestação, nas denúncias sobre a falta de infraestruturas que agravam a pobreza extrema da região, apesar de esta ser uma das mais ricas do país devido à abundância de diamantes.
No topo da insatisfação está a ausência de uma estrada digna desse nome que, apesar das promessas, continua a faltar, sendo um dos motivos que levou ao protesto do ano passado, mobilizado pelo Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe, cujo líder, entre outros participantes se encontra atualmente a ser julgado no tribunal da comarca de Chitato, no Dundo (capital da Luanda Norte).
Ângela Moisés, comerciante de frescos, explicou à Lusa como trazer os produtos, provenientes essencialmente de Benguela, Namibe ou de Luanda, àquela localidade de difícil acesso, se tornou uma verdadeira aventura.
“É difícil, é mesmo sofrimento”, diz.
“Os camionistas não aceitam vir para aqui e se tiverem de vir [cobram] uma margem um bocado mais elevada, o frete é mais elevado por causa da estrada, a estrada é péssima”, explica.
Quando chove “não passa nenhum camião” e a localidade fica isolada, o que pode chegar a uma semana, “até o chão secar”. E há mesmo quem se negue a vir, salienta Ângela Moisés.
São necessárias pelo menos 12 horas para transpor os 700 quilómetros de distância entre a capital, Luanda, e Cafunfo, sendo o troço final, entre a vila mineira e o município do Cuango, com cerca de 40 quilómetros, o mais penoso.
A estrada pública não passa de um caminho esburacado e praticamente intransitável, dividida por ravinas, onde apenas as motos circulam. Como alternativa, moradores e visitantes têm apenas a via que atravessa a concessão mineira do Cuango, sujeita a restrições e limitações de horário.
O governo local diz que a reabilitação da estrada está em curso, mas para os habitantes de Cafunfo são ainda promessas. “Estamos à espera que nos deem uma solução. De concreto, ainda não vimos nada”, desabafa Ângela Moisés.
Totalmente dependentes de geradores para a energia, os comerciantes apontam também os custos do combustível, aliados à escassez e irregularidade do abastecimento, entre as dificuldades que enfrentam, como Rosa Teixeira, proprietária de uma hospedaria e restaurante.
“Nós usamos os nossos geradores e há momentos em que a hospedaria fica sem luz porque não temos combustível”, lamenta.
Quando este chega às bombas, “é luta” para comprar, relata Rosa Teixeira, lembrando que o combustível é também transportado em camiões e estes nem sempre chegam. Ao longo do percurso, carroçarias enferrujadas de camiões de transporte de mercadorias, tombadas aqui e ali e deixadas ao abandono, atestam os obstáculos da viagem.
“A estrada nacional não existe, só tem ravina. Nós queremos, pelo menos, que arranjem a estrada, queremos água, queremos energia, escola, hospitais, é só isso que nós queremos”, pede.
Bento Pedro, filho da terra e proprietário de uma hospedaria, corrobora.
“Pensar em investir aqui não foi fácil, foi preciso amor à pátria para fazer um investimento destes”, diz, sublinhando que as dificuldades são “enormes” por falta de infraestruturas.
A residencial, com mais de 20 quartos, é totalmente auto-abastecida, dependendo de gerador para ter eletricidade e de uma captação própria de água.
“Fiz a minha captação para puxar água para aqui, e não foi barato. E nem imaginas qual o meu consumo de luz aqui. Tenho três geradores e diariamente devo gastar quase 150 mil kwanzas [cerca de 250 euros] só para manter a casa acesa, é um problema sério”, lamenta.
Bento Pedro fala também sobre a complexidade em aceder aos produtos de que necessita, do mobiliário à alimentação.
“Às vezes, mesmo tendo o dinheiro não encontramos o produto, por causa das estradas. Há dificuldades graves para os camiões chegarem ao Cafunfo. Há quem nem aceite alugar os camiões, há quem diga ‘não vou para lá por que lá não há estrada’, e os produtos quando chegam já veem com um preço muito alto”, desabafa o empresário.
“Mas com as nossas dificuldades estamos no Cafunfo. Sem problemas, com problemas, estamos aqui”, prossegue Bento Pedro, apelando à intervenção das autoridades para melhorar a situação, o que viabilizaria também novos investimentos na localidade.