Angola/Cafunfo: Dois garimpeiros mortos por “seguranças” em mina na localidade angolana do Cuango

Dois garimpeiros foram mortos a tiro por seguranças na mina de diamantes do Cuango, Angola, que já foram detidos, disse hoje à Lusa o responsável da empresa concessionária, referindo que vai reavaliar o contrato com a empresa de segurança.

Em declarações à Lusa, Helder Carlos, diretor da Sociedade Mineira do Cuango, localizada na província da Lunda Norte, confirmou que dois jovens garimpeiros foram alvejados mortalmente por seguranças da empresa Kadyapemba, na segunda-feira.

Segundo relatou, os jovens estavam armados, com uma catana e uma arma de fogo e tentaram reagir de forma violenta quando foram abordados pelos seguranças no interior da concessão da mina de diamantes, que ocupa uma área de cerca de 3.000 quilómetros de extensão na zona do rio Cuango.

“Os garimpeiros tentaram insurgir-se e os seguranças reagiram em função dessa atitude”, disse o responsável da mina, indicando que a abordagem inicial foi no sentido de “persuadi-los” a abandonar o local.

Além dos garimpeiros baleados na segunda-feira, registou-se um outro incidente na semana passada, no dia 21 de abril, em que dois jovens foram atingidos a tiro nos pés, “depois de tentarem insurgir-se com violência contra os vigilantes”, segundo Helder Carlos.

“Os seguranças fizeram o habitual e dispararam tiros de aviso”, sublinhou, acrescentando que os garimpeiros foram inicialmente assistidos no posto médico da sociedade mineira do Cuango e depois transferidos para o hospital de Cafunfo, localidade que foi palco de incidentes no final de janeiro, entre polícias e manifestantes, que resultaram num número indeterminado de mortes (seis, na versão oficial, mais de vinte, segundo membros da sociedade civil).

Helder Carlos sublinhou que o garimpo ilegal é recorrente na área da mina, pelo que são contratadas empresas de segurança para proteger a concessão das “invasões”, mas “nenhum ato justificou o uso de força que leva à morte”.

Segundo adiantou, a empresa de segurança abriu um processo de averiguações interno para apurar as circunstâncias em que se deram os incidentes e os responsáveis da mina estão igualmente a avaliar a situação.

“Vamos fazer uma avaliação com a direção da empresa e verificar se há condições para continuar o contrato”, realçou.

Helder Carlos disse ainda que a mina contactou as famílias das vítimas para manifestar “solidariedade” e cedeu as urnas para a realização dos funerais, acrescentando que a Kadyapemba disponibilizou também um montante pecuniário para apoiar os familiares.

Os casos estão a ser investigado pelo Serviço de Investigação Criminal de Cafunfo e levaram as autoridades a apertar a fiscalização das empresas de segurança.

Segundo um comunicado divulgado na página do Facebook do Ministério do Interior, o superintendente-chefe, Abreu Muaco, delegado do ministério e comandante municipal da Polícia Nacional no Cuango reuniu-se no início da semana com os responsáveis e chefes de operações das empresas de segurança privada sedeadas naquela circunscrição para “aferir a legalidade das mesmas no exercício das suas atividades”.

Durante o encontro, “foram afloradas questões relacionadas com o controlo de armamento e munições, além da análise dos últimos incidentes criminais envolvendo vigilantes das empresas de segurança”, refere-se na informação.

O comandante municipal “exortou aos presentes a um maior controlo dos meios letais postos à disposição dos mesmos, bem como a necessidade de se absterem do envolvimento em atos que configurem crimes previstos e puníveis nos termos da lei”, acrescenta.

A agência Lusa tentou contactar a empresa Kadyapemba, sem sucesso até ao momento.

Não foi possível igualmente contactar a delegação do Ministério do Interior da Lunda Norte para obter mais esclarecimentos.

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