A ativista Laura Macedo é impedida há três dias de entrar em Cafunfo, onde no sábado várias pessoas morreram na sequência de uma manifestação convocada pelo Movimento do Protetorado Português da Lunda Tchokwe.
Quase uma semana depois dos violentos incidentes em Cafunfo, província angolana da Lunda Norte, no último sábado (30.01), a região continua debaixo de fogo.
“Todos os dias à noite nós ouvimos tiros e vemos no céu balas tracejantes”, conta a ativista Laura Macedo, que há três dias dorme e acorda dentro do carro, a cerca de 5 km de Cafunfo, porque as forças de segurança a impedem de entrar na vila.
Laura Macedo não tem tido acesso a água nem a comida, assim como uma delegação de cinco deputados da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
“No primeiro dia, os familiares trouxeram-nos água e alguma comida e desde ontem que não permitem mais. Para nós não entra comida, não entra nada, ordem do comandante”, conta em entrevista à DW África.
Presença massiva de militares
Segundo a ativista, ao fim de tantos dias, os moradores da região começam a voltar às suas rotinas, embora o ambiente vivido seja de tensão e medo com a presença massiva de forças militares nas localidades.
“Hoje pela primeira vez eles permitiram que as senhoras fossem trabalhar nas lavras. Já não iam desde sábado. A situação está instável. As pessoas veem alguém que conhecem e não cumprimentam com medo. As pessoas estão a olhar de soslaio. Fiz uma provocação a duas senhoras que estavam a passar, dei ‘bom dia’ e uma delas disse: ‘deixa só, mana’. Porquê? Porque os polícias estão ali”, relata.
Laura Macedo diz que já recebeu ameaças.
“Ontem houve militares que vieram aqui fazer uma demonstração de força. Vieram dois carros cheios de militares, a pularem dos carros, a ameaçarem-nos. Tiveram aqui uma meia hora e foram-se embora.”
“Não existem interesses em diamantes”
A manifestação de sábado passado em Cafunfo foi convocada pelo Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe, que reivindica a autonomia para a região das Lundas, com grandes riquezas diamantíferas. O protesto foi reprimido pelas forças de segurança.
Segundo a polícia, seis pessoas morreram, mas, de acordo com várias organizações, o número de mortos é bastante superior.
Na quinta-feira (04.02), o movimento rejeitou acusações de que esteja a agir a mando de forças estrangeiras. Disse ainda que “não existem interesses em diamantes ou alguma coisa obscura por detrás da reivindicação legítima”, pode ler-se num comunicado.
O grupo sublinha igualmente que “não possui armas” nem Exército e que está comprometido “com a paz e estabilidade político-militar”.
“Estamos abertos para dialogar com o Governo de Angola enquanto cidadãos organizados”, garante o movimento. O mesmo comunicado desmente ainda a alegada fuga do seu líder, José Mateus Zecamutchima.