O governador provincial da Lunda Norte apelou hoje ao diálogo e reconciliação na vila mineira de Cafunfo, onde há um mês incidentes com a polícia provocaram um número indeterminado de mortes, afirmando que “é hora de sarar as feridas”.
Ernesto Muangala falava hoje em Cafunfo, perante mais de 500 pessoas, entre membros do executivo e autoridades eclesiásticas, oficiais da polícia, sobas e habitantes locais, que se juntaram hoje no salão 4 de Abril para refletir sobre os acontecimentos de 30 de janeiro.
As versões divergem sobre se foi um ataque à esquadra de polícia num ato de rebelião armada ou massacre de manifestantes, tal como o número de mortes, que variam entre os seis contabilizados pelas autoridades policiais e os cerca de vinte relatados por ativistas, membros da sociedade civil e partidos da oposição angolana.
Abrindo as jornadas organizadas pelo Ufolo – Centro de Estudos para a Boa Governação, em parceria com o Comando Geral da Polícia Nacional, com um discurso centrado na união e apelos à reconciliação, Ernesto Muangala focou-se na defesa da segurança como uma necessidade básica do ser humano e condição essencial para o exercício de direitos.
“Trazemos todos nós marcas nos corações, sulcados pelos conflitos armados”, vincou o responsável da Lunda Norte, sublinhando que deve ser desencorajada “a prática de todos os atos que atentem contra a segurança e soberania nacional, contra a Constituição e contra a lei”.
Defendendo uma “Angola una e indivisível”, o discurso de Ernesto Muangala contou com aplausos de parte do público presente em alguns momentos, mas gerou também burburinho discordante em alguns momentos, em particular ao falar sobre as receitas dos diamantes, ações do executivo a nível das infraestruturas e as obras na estrada que ligará Cafunfo até à fronteira com a República Democrática do Congo, “cujos trabalhos se iniciarão amanhã [quarta-feira]”.
O governador da Lunda Norte afirmou que as reivindicações e pretensões contrárias aos interesses de Angola “nunca terão respaldo no passado histórico nem nas tradições dos angolanos” e falou sobre o desenvolvimento da província, elencando várias obras.
“Não nos parece justo propalar que o executivo angolano não tenha planificado o desenvolvimento para a nossa província”, sublinhou.
Destacou que a mudança só poderá ser feita “com a força do diálogo”, visando sobretudo aqueles que fizeram apelo à violência para promover os seus fins, numa alusão ao Movimento Protetorado da Lunda Tchokwe, que o Governo angolano responsabiliza pelo “ato de rebelião” de 30 de janeiro.
“Sentimos neste momento dor pelo que aconteceu nestas terras”, continuou o governador, apelando à reconciliação, diálogo e luta contra as assimetrias.
“Não oponhais resistência à reconciliação”, enfatizou, dirigindo-se ao povo de Cafunfo presente na sala, afirmando que “é hora de sarar feridas” e abrirem-se à convivência.
As jornadas sobre Cidadania e Segurança Pública, organizadas pela Ufolo – Centro de Estudos para a Boa Governação, em parceria com o Comando Geral da Província Nacional prossegue esta manhã com intervenções do padre Celestino Epalanga, presidente da Comissão de Justiça e Paz da Igreja Católica, subcomissário António Pinduka Melo Marques, diretor adjunto da Escola Prática de Polícia e Lúcia Silveira, defensora dos direitos humanos.
Na parte da tarde será debatida a situação socioeconómica na região diamantífera das Lundas, com participação de Mwatchissengue wa Tembo, a mais alta autoridade tradicional das Lundas, o economista Yuri Quixina e um representante da indústria mineira.
As jornadas terminam na quarta-feira com um painel em que serão ouvidos depoimentos de líderes religiosos locais, participantes e testemunhas da ocorrência e familiares das vítimas.