Depois de terem ficado fechados na casa paroquial que os acolheu na tensa região norte de Angola, quatro membros da ONG Mosaiko já se encontram em segurança. Frei Júlio Candeeiro, diretor da organização, disse pelo telefone ao Expresso que ainda não são conhecidos os detalhes, mas que “o que interessa é que estão bem”
Uma equipa de quatro voluntários da Organização Não Governamental (ONG) direitos humanos angolana Mosaiko, que se deslocou à região do Cafunfo, região diamantífera e transfronteiriça no norte de Angola, para recolher detalhes sobre os incidentes ocorridos a 30 de janeiro, que terão resultado em violência e na morte de alguns manifestantes, esteve retida vários dias na casa paroquial que a acolheu, sem conseguir cumprir a missão.
Este domingo, os quatro membros da organização já estavam de regresso a Luanda, onde, em segurança e pelo telefone, relataram a frei Júlio Candeeiro, diretor da organização, que a ação de intimidação por parte das forças policiais foi até ao fim, tendo mesmo a partida da localidade sido acompanhada por agentes.
O argumento para impedir os voluntários de contactarem com a população do Cafunfo foi a necessidade de fazerem quarentena, mas não foi assim que os membros da Mosaiko interpretaram a proibição de saírem da casa paroquial onde se encontravam abrigados.
Ao Expresso, frei Júlio Candeeiro contou que “o apoio à região não é novo e, desta vez, o objetivo era dar suporte à Comissão Justiça e Paz e não apenas saber o que se passou durante as manifestações, mas, sobretudo, continuar a apoiar aquela comunidade”.
Os próximos dias serão dedicados a decidir quais os passos seguintes da ONG, assim como ter acesso a informação detalhada sobre a deslocação ao Cafunfo. “Para já, a conversa foi breve, mas nesta segunda-feira devemos reunir-nos para debater qual a estratégia a seguir”, concluiu frei Júlio Candeeiro.
Na passada quinta-feira, a organização de direitos humanos angolana havia denunciado, nas suas redes sociais, que estes voluntários se encontravam sob vigilância policial no Cafunfo. A equipa tinha-se deslocado à vila para uma missão de apoio à Comissão de Justiça e Paz e aos missionários locais, após relatos de actos de violência contra manifestantes.
O argumento utilizado pelas autoridades para manter os elementos da ONG retidos foi a necessidade de terem de ficar em isolamento profilático.
O mais recente decreto presidencial sobre a situação de calamidade pública do país devido à pandemia determina que as entradas e saídas de Luanda, a única província sob cerca sanitária, estão condicionadas à realização de um teste serológico, com resultado negativo, válido por sete dias, aplicando-se a quarentena apenas a quem é proveniente do exterior do país. Ou seja, não se aplicaria aos voluntários da Mosaiko, ONG fundada em 1997 pelos Missionários Dominicanos (Ordem dos Pregadores).