Angola: Caso dos “30 milhões de dólares” na bagagem do Presidente de São Tomé e Príncipe?

A sociedade civil angolana defende que podia-se aproveitar a visita de Carlos Vila Nova a Angola para se abordar o escândalo de corrupção em São Tomé e Príncipe, mas ativistas não acreditam que dinheiro será recuperado.

O Presidente de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, iniciou esta segunda-feira (09.05) a sua visita de Estado de três dias à Angola com um discurso no Parlamento angolano.

Para representantes da sociedade civil angolana, a visita poderia ser uma oportunidade para discutir o paradeiro dos 30 milhões de dólares desviados em STP. João Malavindele, da ONG Omunga, diz que podia-se aproveitar a visita do Chefe de Estado são-tomense para se abordar o assunto embora o ativista não acredite na recuperação do dinheiro.

“Tratando-se de um caso de corrupção, é responsabilidade dos órgãos da Justiça irem à busca da verdade dos factos, embora reconheçamos que a política é quem dita as regras da justiça”, disse.

Para Nkininamo Tussamba, especialista em assuntos internacionais, é fundamental deixar que a Justiça faça o seu papel. “Para que se resolva esse impasse, o mecanismo mais adequado seria, obviamente, os tribunais trabalharem. Ou seja, os tribunais devem ser realmente independentes e não trabalharem a favor de quem governa. Isso acaba sempre beliscando a verdade da própria justiça”, explica.

Mais do que independência dos tribunais é necessário que todo processo de recuperação dos valores seja transparente, diz Malavindele. “Até porque estamos diante de um saque do erário público e os cidadãos têm todo o direito de saber o percurso e o destino destes mesmos valores”, complementa.

Relações saudáveis

Em declarações à DW África, Nkinkinamo Tussamba diz que esta visita vai relançar as relações bilaterais entre os dois países. “Porque Angola e São Tomé mantêm relações saudáveis. São relações amigáveis e estas relações devem ser cada vez mais salvaguardadas sempre na intenção de reforçar essa cordialidade entre os dois países”, diz.

Esta relação de cooperação e cordialidade entre os dois Estados data da década de 1970. Mas nem sempre foi um mar de rosas. Recentemente, o desvio de 30 milhões de dólares em São Tomé forçou o Procurador-Geral da República de Angola deslocar-se até aquele país para “descobrir a verdade”. Porém, a verdade ainda não é conhecida.

Antes da sua ida ao Parlamento angolano, Carlos Vila Nova reuniu-se com o seu homólogo angolano, João Lourenço.

Na Assembleia Nacional, onde discursou, o Presidente são-tomense recebeu as boas-vindas de Fernando da Piedade Dias dos Santos, líder parlamentar de Angola. “Nando” reconheceu o processo de desenvolvimento da democracia daquele país. “Acompanho o progresso da República Democrática de São Tomé e Príncipe e, sobretudo, os avanços que tem alcançado em matéria de democracia, coesão e progresso social”, afirmou.

Por seu turno, Carlos Vila Nova reconheceu a importância de Angola na resolução dos conflitos em África. “Essa construção de uma Angola democrática e respeitada que faz do vosso país uma referência, uma potência, uma autoridade na mediação de conflitos, uma voz eivada de legitimidade para contribuir para arbitragem de conflitos no continente e no mundo, onde o peso dos desafios é enorme e toda ajuda no sentido de os resolver é bem-vinda e necessária”, sublinhou.

O presidente de São Tomé e Príncipe destacou ainda a criação da Zona Económica Livre de África como um fator que pode contribuir para a autonomia da economia africana. Para isso, diz, é preciso valorizar mais a juventude, maior população do continente.

“E, por isso mesmo, devíamos focar essa franja com plena esperança na construção de uma África com maior dinamismo e progresso capaz de responder aos seus próprios desafios, às suas próprias necessidades, às suas próprias ambições e sonhos num universo onde a vida de todos os homens e mulheres tem exatamente o mesmo valor”, disse.

Esta terça-feira (10.05), o Presidente de São Tomé e Príncipe desloca-se à província angolana do Nambe na sequência da sua visita de Estado à Angola.

 

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