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Angola: Comandante Miro, o guerrilheiro assassinado por companheiros na 1ª região

Lourenço António CASIMIRO, natural de Luanda, Ingombotas, nasceu a 3 de Novembro de 1941 e foi uma destacada figura do movimento juvenil que muito cedo aderiu à causa da luta contra o colonialismo português para a independência de Angola.

Filho de pais cabindas, Ana FUNZI e José Alberto PONGO CASIMIRO, frequentou o Seminário de São José, em Malanje, onde conheceu colegas como Nicolau Gomes Spencer, Miguel Timóteo, João Sodré da COSTA e Victorino NZINGA. Nicolau Spencer e Miguel Timóteo são já falecidos, mas João Sodré Gonçalves da COSTA reside na Califórnia, USA, e Victorino NZINGA em Luanda.

Depois do Seminário de São José, em Malanje, Lourenço António Casimiro que viria a tornar-se no destemido “COMANDANTE MIRO”, frequentou também o Colégio da Casa das Beiras, onde manteve contactos de índole nacionalista com o seu professor de religião e moral, o então padre Alexandre do NASCIMENTO. Antes de abandonar Luanda, em 1960, para juntar-se à luta de libertação nacional no então recém independente Congo Léopoldville de KASAVUBU e LUMUMBA, onde afluíam muitos nacionalistas, ao despedir-se do Padre, hoje Dom Alexandre Cardeal do Nascimento recebeu como conselho: “Prudência, prudência, prudência”

Apesar de viver na Ilha do Cabo, em Luanda, Lourenço António Casimiro era frequentador de outros bairros de Luanda, incluindo o Bairro Operário, onde mantinha contactos com outros jovens ligados à ideais nacionalistas, como Guilherme Tonet, José Gomes, Adolfo João Pedro, Maurício de Almeida Moreira Bastos, Inocêncio Maurício, Sebastião Pascoal, Eduardo Pereira Africano, José Miguel Francisco, Francisco Alberto Carlos Mendes, José Custódio Rodrigues, António Domingos Amaro, Jaime Madaleno da Costa Carneiro e tantos outros. Tempos em que a tomada de consciência nacionalista pulsava com fervor pelas ruas de Luanda, particularmente dos bairros da periferia, onde se concentrava essa nova geração que teria um papel de relevo na luta contra o colonialismo e contra a opressão.

Nessa altura, Guilherme Tonet criou o BAR NGOLA, na rua de São Paulo, com a ideia de transformá-lo num ponto de encontro dos intelectuais angolanos. A abertura do BAR NGOLA foi abrilhantada com a actuação do CONJUNTO NGOLA RITMOS, sob a liderança de Carlos Aniceto Vieira Dias, integrado também por José Maria, Nino Ndongo, Xodó, Fontes Pereira e Amadeu Amorin. Lourdes Van-Dúnem, Celita Santos e Belita Palma, eram as vocalistas.

Tempos do Club Atlético de Luanda e do Centro Evangélico da Juventude Angolana “CEJA”, outros viveiros do nacionalismo angolano, que encontrava igualmente expressão no “BOTA FOGO”, Associação Académica do Ambrizete, no conjunto cultural NGONGO, e em várias outras agremiações que nasceram e se tornaram verdadeiros focos de inspiração nacionalista.

Lourenço Joaquim Casimiro, que se tornou depois na figura de COMANDANTE MIRO, partiu em Outubro de 1961 de Ponta Negra, Congo Brazaville, para a Guiné Conakri com outros jovens ligados ao MPLA, a bordo do barco francês JEAN MERMOZ, onde se juntam outros jovens angolanos fugidos de Portugal, via Ghana.

De Conakry Lourenço Joaquim Casimiro seguiu para a Checoslováquia, onde depois da aprendizagem da língua checa, e passando com bastante brilho por todos os obstáculos que lhe surgiram pela frente, inscreveu-se na Escola Superior de Economia. CASIMIRO já frequentava o quarto ano da Faculdade de Economia, quando, em 1966, em Brazzaville, foi eleito presidente da União dos Estudantes Angolanos, afectos ao MPLA. A direcção da UEA deveria funcionar no interior de Angola, junto da guerrilha. Mas, CASIMIRO foi aconselhado por outros companheiros a não aceitar o cargo. E esse receio foi justificado algum tempo depois.

O COMANDANTE MIRO, foi, brutalmente assassinado pelos seus próprios companheiros, na região de Nambuangongo, na sequência de um julgamento “revolucionário” cuja sentença foi a pena de morte por fuzilamento, em que tomaram parte várias figuras, entre as quais, o general Benigno Vieira Lopes, à quem, de acordo com vários relatos de figuras ligadas ao movimento guerrilheiro, o “COMANDANTE MIRO”, terá “disparado a seguinte pergunta: “ATÉ TU BENIGNO ESTÁS CONTRA MIM”?

A viúva do COMANDANTE MIRO vive em Luanda, bem como o seu filho. E o general Benigno Vieira Lopes, também.

Contribuição de um nacionalista angolano

Ramiro Aleixo
 

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