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Angola: “Corte de verbas” para medicamentos agrava situação nas unidades sanitárias do país

Corte da verba para a compra de medicamentos nos hospitais angolanos agravará a situação, já precária, em que se encontram a maior parte das unidades sanitárias do país, afirmam técnicos de saúde.

Em Angola, o dinheiro destinado à aquisição de fármacos e materiais gastáveis nos hospitais foi reduzido pelo Governo na ordem dos 1,6 mil milhões de kwanzas. Já há relatos de ruptura de estoque em alguns hospitais.

Em 2021, o Orçamento Geral do Estado (OGE) disponibilizou 6,6 mil milhões de Kwanzas para a aquisição de medicamentos. No entanto, no OGE deste ano, segundo o semanário angolano Novo Jornal, esta verba foi cabimentada para cinco mil milhões de kwanzas.

Em declarações à DW África, o secretário-geral do Sindicato dos Enfermeiros de Luanda, Afonso Quileba, alerta que este corte vai causar sérios constrangimentos nos hospitais, que já lutam contra a escassez de medicamentos.

Grandes riscos

“Teremos grande riscos de contaminação por doenças, e cada vez mais casos”, explica, “haverá fuga de pacientes por não encontrarem medicamentos e mais mortes domiciliar”. As “pessoas vão procurar curandeiros, ao invés de médicos”, acrescentou.

O técnico de enfermagem explica que, neste momento, pacientes, com o seu próprio dinheiro, estão a comprar medicamentos e outros materiais, como luvas, para serem atendidos nos hospitais, que carecem de tudo.

“Essa é a nossa realidade. O paciente continua a comprar luvas, seringas, continua a comprar analgésicos, o fio de sutura”, disse. Além disso, “os exames são feitos fora das unidades sanitárias porque essas não têm reagentes. Ou os equipamentos estão avariados e não há formas de repor”, lamenta o secretário-geral do Sindicato dos Enfermeiros de Luanda.

Também Pedro da Rosa, o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Médicos Angolanos, descreve a situação atual dos hospitais como lastimável, “falta quase tudo nas unidades de saúde do Estado”, argumentou.

“Hoje, por exemplo, já não se vêm os ‘kits’ de medicamentos essenciais, aqueles fármacos para tratar as principais endemias, o que faz com que a população busque outras alternativas. E isso contribui para a elevada taxa de mortalidade nas nossas populações”.

Destino das verbas

Antes de chegar ao seu destino, que é uma unidade sanitária, o dinheiro proveniente do OGE passa pelos Governos provinciais, administrações municipais e repartições de saúde, o que faz com que o valor que chega aos hospitais seja irrisório, explica o sindicalista.

“A verba que chega é praticamente escassa, para além das inúmeras empresas terciárias que se encontram nas unidades sanitárias. Isso faz com que o dinheiro que se disponibiliza para a compra materiais, fármacos e equipamentos seja quase inexistente. Portanto, nossos hospitais, hoje, vivem quase todos de doação”.

A escassez de medicamentos e materiais gastáveis nos hospitais são algumas das exigências que constam nos cadernos reivindicativos dos médicos e dos enfermeiros. Quase três meses após a suspensão da greve nos hospitais públicos, o Governo ainda não atendeu as exigências dos médicos.

Entretanto, no próximo dia 8 de março, os técnicos vão decidir se avançam para uma nova paralisação no setor da saúde.

“Não verificamos frutos desejáveis das negociações, há mais recuos do que avanços. Tudo indica que, em março, a partir do dia 8, venha acontecer uma segunda assembleia dos médicos, e assim se volte a segunda vaga da greve, que agora está interpolada”, disse o médico Pedro da Rosa.

 

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