Vários deputados da oposição em Cabinda queixam-se que não são ouvidos pelos órgãos de comunicação social estatais em Angola. Falam em “censura” e temem que a situação possa piorar com o aproximar das eleições gerais.
O braço de ferro entre alguns deputados da oposição em Cabinda e a imprensa pública dura há mais de um ano. Os deputados dizem que convidam a imprensa pública para os seus eventos, mas os jornalistas desses órgãos nunca aparecem. Queixam-se também que não são chamados a comentar os assuntos que afetam a província angolana.
O deputado independente Lourenço Lumingo diz que só tem uma palavra para descrever o que está a acontecer: censura. “Nós, na qualidade de deputados, temos pouco acesso, ou quase não temos acesso à imprensa local, falo exatamente da TPA e da RNA, em que as nossas entrevistas não passam”, denuncia.
Cabinda tem cinco deputados na Assembleia Nacional: dois são do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), dois da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE) e um da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Para Raúl Tati, do grupo parlamentar do “galo negro”, há um “boicote bem arquitetado” na televisão pública e na Rádio Nacional de Angola (RNA) para desconsiderar o trabalho dos deputados da oposição.
“Estamos a ser boicotados por esses órgãos públicos que deveriam estar ao serviço do interesse público. Infelizmente, esses órgãos foram sequestrados e estão reféns do regime [do MPLA]. Creio que o que está a acontecer não é da vontade dos jornalistas. Mesmo que eles pretendam fazer um trabalho connosco, infelizmente, tais ordens, que não têm rosto, acabam por influenciar”, argumenta.
“Makas” antigas
As acusações de “censura” nos órgãos de comunicação social públicos são antigas. Ainda no tempo do anterior Presidente, José Eduardo dos Santos, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) alertou que quase toda a imprensa no país estava sob vigilância apertada.
Com a chegada de João Lourenço à Presidência da República, em 2017, foram notadas algumas melhorias. Mas episódios como o boicote temporário da TPA e da TV Zimbo à cobertura das atividades da UNITA, em setembro passado, despertaram novamente preocupação quanto ao estado da liberdade de imprensa em Angola.
O deputado Lourenço Lumingo diz que tentou em vão chegar a um entendimento com a imprensa pública, para pôr fim ao braço de ferro. “Endereçámos uma carta ao governador da província com o conhecimento do Sindicato dos Jornalistas em Luanda, da sétima comissão da Assembleia Nacional, da qual fazemos parte, e do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado. Nunca recebemos resposta. Portanto, decidimos nunca dar entrevista a esses órgãos públicos, porque estaríamos a perder o nosso tempo”, explica.
Acusações “infundadas”
Contactada pela DW África, a TPA em Cabinda não aceitou gravar entrevista. Um responsável, que pediu o anonimato, disse apenas que a direção da televisão não vai responder às acusações dos deputados, que considera “infundadas”.
A RNA também não aceitou gravar entrevista, por as acusações “não refletirem” a política de gestão da nova direção.
Os deputados da oposição temem, no entanto, que, com o aproximar das eleições gerais de agosto, a situação piore, e haja cada vez mais um tratamento desigual dos candidatos e dos partidos na imprensa pública.