Muitos doentes com tuberculose não procuram tratamento com medo da rejeição pela família. Em Malanje, dos 55 pacientes internados no hospital sanatório local, 15 foram abandonados por familiares e estão à própria sorte.
Pelo menos 15 pacientes internados com tuberculose no Hospital Sanatório de Malanje estão abandonados há mais de um mês pelos seus familiares que temem contrair aquela doença infeciosa.
Segundo Regina Zuzi, porta-voz da unidade vocacionada para o tratamento da tuberculose, muitos desses familiares põem-se em fuga durante ou depois dos tratamentos.
“Nós também não sabemos para onde essas pessoas podem ir, então é uma grande dificuldade que o nosso hospital tem vivenciado”, admite.
De acordo com o Programa Nacional de Controlo da Tuberculose em Angola, em 2019, o país registou 76.782 novos casos, em 2020 foram 64.782 novos episódios de doença e, no ano passado, foram feitos 63.970 novos diagnósticos.
Falta de apoio
Domingas Guilherme, de 35 anos, está internada no Hospital Sanatório de Malanje há vários dias. Esta mãe de quatro filhos é uma das vítimas do abandono familiar durante os tratamentos da tuberculose, uma doença transmissível causada pelo bacilo de Koch que afeta os pulmões, embora possa também acometer outros órgãos.
“Tenho mesmo família cá. Mas a família não me está a prestar atenção. Queria que a família estivesse a par e passo comigo”, lamenta.
Outro problema que está a embaraçar a atividade médica local e a chocar a sociedade é o abandono do tratamento por parte dos pacientes. De acordo com Luís Quissanje, supervisor provincial de combate à tuberculose, mais de 150 doentes abandonaram o tratamento no ano passado. Junta-se a isto, a carência de técnicos e meios.
“É preocupante para o programa da tuberculose dentro da província. Toda a unidade deve fazer o acompanhamento do paciente com tuberculose e não estamos a conseguir fazer isso porque temos algumas dificuldades dos técnicos dentro das unidades sanitárias”, revela o especialista.
Problema da subnotificação de casos
O diretor provincial da saúde de Malanje, Avantino Domingos, diz que a sua maior preocupação é que haja mais casos de tuberculose nas comunidades que sejam desconhecidos para as autoridades – e, portanto, sem tratamento.
“Temos uma subnotificação de casos de tuberculose na comunidade, um problema de saúde publica preocupante. A situação é muito mais crítica. As famílias carentes são desprovidas de condições. Quando não têm o que comer, muito dificilmente vão aderir à terapêutica contra a tuberculose”, alerta Avantino Domingos.
A província de Malanje registou 1.441 casos de tuberculose em 2021, dos quais 62 resultaram em morte.