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Angola/Eleições: Amnistia Internacional (AI) preocupada com “sufoco da liberdade de expressão” em Angola

Amnistia Internacional (AI) preocupada com sufoco da liberdade de expressão em Angola. Critica ainda palavras “infelizes” que podem levar à violência, frisando que UNITA e MPLA têm um papel crucial na manutenção da paz.

Entrou em vigor, esta segunda-feira (05.09), o despacho datado de 3 de setembro, que coloca em “estado de prontidão combativa elevada” as Forças Armadas de Angola. Uma ação que, segundo a organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional traz de volta “fantasmas do passado”, referindo-se à guerra civil no país.

Em entrevista à DW África, o diretor-executivo da Amnistia em Portugal, Pedro Neto, lembra a “grande responsabilidade” que, quer o líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), quer o líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), têm na manutenção da paz em Angola.

Apela, por isso, a que não se entre “em comentários infelizes”, como o do candidato do MPLA, João Lourenço, quando falou em festejar “o penta”, ou em ações que possam “acicatar a população à violência”, numa alusão à publicação por parte do líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, das controversas atas das assembleias de voto em municípios onde o seu partido terá ganho, ao contrário do que dizem os dados oficiais da Comissão Nacional Eleitoral.

DW África: Entrou hoje em vigor em Angola o despacho que coloca as Forças Armadas em “estado de prontidão combativa”. Até que ponto é posto em causa o direito à reunião e manifestação no país?

Pedro Neto (PN): Este anúncio intimida pelas palavras que foram utilizadas, como “prontidão combativa”, ainda por cima de militares. Há aqui, com esta expressão, o regresso de fantasmas do passado, em que este tipo de expressões e prontidão militar também foi utilizada. A diferença é que agora a UNITA não tem um exército como tinha em 1992, quando a guerra civil rompeu de novo.

São fantasmas que, noutras eleições, levaram as pessoas a terem medo de votar e até a violência, nomeadamente antes das eleições em 2008, com carros queimados, casas incendiadas e pessoas feridas. Desta vez, não vimos isso acontecer significativamente antes das eleições, mas estamos a ter notícia disso já depois das eleições. Não queremos fantasmas de guerras civis em Angola, de novo. João Lourenço diz que é hora de festejar o “penta”, mas esse foi um comentário muito infeliz, porque é hora é de deixar a democracia falar.

DW África: Nos últimos meses, tem sido notória uma mobilização forte por parte da sociedade que clama por alternância política. Hoje mesmo o Movimento pela Verdade Eleitoral prometeu “manifestações ininterruptas no país”. Neste contexto, e caso a população não se deixe intimidar e saia às ruas, pode a situação resvalar para episódios de violência?

Pedro Neto (PN): Sim e isso não será novidade, infelizmente. Ao longo dos anos, as manifestações e a liberdade de expressão têm sido sempre reprimidas em Angola, até com violência. Claro que, num gesto inédito, o Presidente João Lourenço recebeu alguns ativistas e jovens no palácio presidencial, pouco tempo depois de tomar posse. Luaty Beirão foi uma das pessoas recebidas. Mas está na altura do Presidente em exercício, João Lourenço, que também tem a responsabilidade política pela gestão do Exército, assegurar que este encontro não foi fogo de vista, mas era algo mais profundo e de entendimento pelo respeito da liberdade de manifestação e liberdade de opinião, principalmente quando se discorda dela.

DW África: No mesmo dia em que o Governo colocou as Forças Armadas em prontidão, Adalberto Costa Júnior tornou públicas as cópias das atas das assembleias de voto em municípios onde a UNITA terá ganho, ao contrário do que disse a CNE. Poderá esta ação agitar ainda mais o ambiente já tenso?

Pedro Neto (PN): Isto não é um jogo de futebol em que somos pela “equipa A” ou “equipa B”. Trata-se do futuro de Angola e, portanto, o resultado aqui é todos saírem vencedores. Os líderes de ambos os partidos políticos mais votados – UNITA e MPLA – devem também garantir que a Constituição, a paz, a ordem pública e a justiça têm espaço para acontecer em segurança e os direitos humanos não são violados neste processo de eleições, que é o garante dos direitos civis e políticos.

Portanto, [deixamos] também aqui o apelo a ambos os líderes para não entrarem em manifestações mais infelizes como festejar o “penta”, porque isto não é futebol, ou acicatar a população à violência. Há uma responsabilidade muito grande da parte das duas personalidades que lideram estes partidos para assegurar que tudo é resolvido com paz e segurança.

Exército em prontidão: Amnistia teme “fantasmas do passado” em Angola

 

 

 

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