Duas das principais forças políticas moçambicanas consideraram hoje que os “partidos de família comunista”, no poder em Moçambique e em Angola, tentam afastar os eleitores das mesas de votação em processos eleitorais para preparar fraudes e manterem-se no Governo.
“Os partidos no poder não têm nada que evitar que um eleitor presenceie a votação e o que aconteceu em Angola, certamente, vai acontecer em Moçambique. Os partidos de família comunista não querem alternância governativa”, declarou à Lusa José Manteigas, porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido de oposição moçambicana.
Em causa está o debate que surgiu em torno do movimento “Votou, Sentou” nas eleições de quarta-feira em Angola, uma ideia que a oposição moçambicana tentou também adotar nos últimos escrutínios no país, em 2019 e em 2018, mas não teve êxito, na medida em que a lei eleitoral estabelece uma “área restrita” de, pelo menos, 300 metros.
Para o principal partido de oposição moçambicana, a primeira consequência destas decisões são os altos níveis de abstenção eleitoral, tendo em conta que o povo não se sente parte do processo, numa altura em que as instituições responsáveis pelos escrutínios “caíram também em descrédito”.
“As pessoas ficam cada vez mais céticas sobre a votação, justamente porque acham que mesmo indo votar a sua vontade expressa na urna vai ser violada”, declarou José Manteigas, acrescentando que, para o caso de Moçambique, os conflitos armados que assombram ciclicamente os períodos pós-eleitorais são o resultado desta “descrença”.
Também para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força política com assento parlamentar, “parece clara” a vontade de “afastar” o povo dos processos eleitorais por parte dos governos do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).
“O objetivo deles é continuar a roubar votos para permanecerem no poder por vias de fraudes”, declarou à Lusa Ismael Nhacucue, porta-voz do MDM, notando que, tanto em Moçambique ou Angola, o “povo não está a cometer nenhum crime ao tentar controlar o seu voto”.
No caso de Moçambique, prosseguiu Ismael Nhacucue, a história mostra que nos pontos em que os eleitores implementaram o movimento “Votou, Sentou” durante as eleições autárquicas de 2018 a oposição venceu, como é o caso da Cidade da Beira, na província de Sofala.
“Há indícios claros de que quando há um controlo mais efetivo do voto a oposição tende a vencer. O que significa claramente que há manobras que são feitas durante estes processos para não permitir que os resultados sejam mais transparentes”, frisou o porta-voz do MDM.
A Lusa em Maputo tentou, sem sucessos, ouvir o partido no poder.
Durante a campanha eleitoral, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) insistiu no movimento “Votou, Sentou!”, exortando os seus apoiantes a ficarem junto das assembleias de voto para controlarem o resultado da contagem final.
A iniciativa foi considerada ilegal pelas autoridades e um dos motivos de tensão nas eleições de quarta-feira, mas acabou por não ter grande expressão junto das principais assembleias de voto.