O ex-primeiro-ministro e antigo secretário-geral do MPLA Marcolino Moco considera que as promessas feitas pelo Presidente João Lourenço em época de campanha eleitoral, em 2017, foram “ambíguas”, acusando-o de recorrer actualmente a “jogos” para prejudicar os seus adversários políticos. “Hoje por hoje, é como se tivéssemos a ver uma cobra a roer o seu próprio rabo”, afirma.
Marcolino Moco, que falava em entrevista exclusiva ao portal na Mira do Crime, fez duras críticas à liderança de JLo, tendo admitido um outro rumo para o país, caso o Presidente da República tivesse optado por ser fiel às três propostas de reformas apresentadas em 2017 durante a sua campanha, nomeadamente a reforma da justiça, a defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos, e da liberdade de imprensa.
Moco não tem dúvidas de que a “própria oposição séria” o apoiaria, mas o ter optado por “fazer jogos para prejudicar a oposição”, na opinião do ex-secretário-geral dos ‘Camaradas’ comprometeu toda e qualquer iniciativa que visasse alterar o estado de coisas no país.
O ex-primeiro-ministro de José Eduardo dos Santos considera que o Presidente João Lourenço tem cometido “erros de palmatória que podem custar [caro] ao MPLA, e acusando-o de ter sido o pivot do processo que destituiu o então presidente da UNITA Adalberto da Costa Junior”.
“Qualquer pessoa minimamente avisada vê que há ali uma manipulação aberta e ostensiva. O Tribunal Constitucional (TC) é obrigado a tomar determinadas decisões”, acusou o militante do MPLA, curiosamente trazido de volta para o convívio do partido pelas mãos de João Lourenço, nas vésperas das eleições de 2017, depois de largos anos de desencontro com a liderança do ex-presidente do MPLA e da República.
Ao ser questionado sobre as expectativas que tem sobre o processo eleitoral de 2022, Marcolino Moco foi categórico: “A fraude eleitoral já começou a nível do país, porque quando os competidores, em relação a uma disputa, têm armas diferentes, está declarado um dos aspectos importantes da fraude”.
Moco critica também a postura do MPLA, para quem, “para se prestigiar perante a população, não precisa de sufocar a liberdade dos outros”.
A candidatura de António Venâncio é vista por Moco como “um acto de coragem”, por se tratar de um militante de base. O ex-secretário-geral do MPLA classificou como “triste” a posição de militantes veteranos que se acham sem condições para quebrar as tradições impostas há longos anos, apresentando como exemplo de ruptura com este paradigma os partidos adversários da praça eleitoral, que, segundo defendeu, “vêm exercitando a sua democracia interna há algum tempo”.
“Até mesmo no seio da própria UNITA, que pretendem destruir, da FNLA, da CASA-CE e do Bloco Democrático, há muito tempo que há candidaturas múltiplas”, sustentou.
Marcolino Moco aproveitou a entrevista ao portal Na Mira do Crime para explicar o motivo de nunca se ter apresentado como candidatado à presidência do partido no qual milita. O ex-primeiro-ministro entende que não seria possível dar o seu contributo e exprimir as suas ideias, livremente, num partido onde qualquer sinal de divergência de ideias com a chefia implica problemas muito sérios.
O político e jurista não se ficou por isso, indo mais longe, acusando o seu próprio partido de “cobardemente afastar quem se oponha às suas ideias desde 1998″. “Hoje quando o presidente do partido traz as suas ideias do palácio, o resto do partido tem que se limitar a bater palmas. Nestas condições não me posso candidatar”, explicou.
A imprensa pública não saiu ilesa, já que para o político esta “pouco ou nada tem feito para ajudar a democratizar o país”, evitando divulgar as várias acções de António [Venâncio]”. Moco lamentou o facto de ser esta “uma prática do ‘sistema’, para destruir os partidos políticos, de modo a manter-se “no sistema de partido único”, que causa enormes prejuízos ao desenvolvimento.
Dentre os temas abordados, ainda houve espaço para Moco “meter a foice em seara alheia”, augurando “que o congresso [da UNITA] venha a revalidar a liderança de Adalberto Costa Júnior”. Caso este não seja o desfecho, Moco entende que “seria um retrocesso na democracia do país”, com os sérios riscos de se voltar “para um modelo de partido único, embora com outras roupagens”.
Marcolino Moco já tem, entretanto, uma certeza: a possibilidade de o engenheiro António Venâncio não conseguir formalizar a sua candidatura, seria razão bastante para que este não marcasse presença no congresso de Dezembro dos ‘Camaradas’, evitando assim ser “um bate palmas estrondoso a favor de um homem que está a cometer inúmeros erros e que está a deitar por terra o prestígio que restava ao MPLA”.