Família de Inocêncio Matos, morto na manifestação de 11 de novembro, diz que autoridades não querem divulgar reais circunstâncias da morte. Autópsia realizou-se esta segunda-feira (16.11) sem a presença dos familiares.
O funeral de Inocêncio Matos está a depender somente da autópsia. O exame terá sido feito, mas o resultado não foi entregue aos familiares. Ao contrário do que acontece em processos do género, a família de Inocêncio diz que foi expulsa da sala onde terão decorrido as análises, esta segunda-feira (16.11). No final, o resultado foi apresentado de forma verbal, o que não agradou aos parentes.
“Horas depois da autópsia, pediram que entrássemos, alegando que a autópsia estava feita. Estando feita, naturalmente, esperava-se um resultado por escrito. Disseram que não havia hipóteses de podermos levar o resultado”, conta Alfredo Matos, pai de Inocêncio.
Em declarações à DW África, o pai do jovem diz ter a certeza de que Inocêncio foi assassinado e que não morreu por acidente, como querem fazer crer as autoridades sanitárias do país. “Ficámos absolutamente baralhados e, até agora, praticamente não temos noção real em que circunstâncias o Inocêncio morreu. Entretanto, existem evidências que aconteceram no local. Existem vídeos e peças que podem criar algumas elucidações”, sublinha.
O Governo angolano mantém-se em silêncio quanto à morte do manifestante durante a repressão da manifestação pela Polícia Nacional. Nem uma mensagem de condolências foi enviada à família. O velório está a decorrer no São Pedro da Barra, um bairro com vários problemas sociais, onde Inocêncio Matos viveu desde a sua infância.
Universidade proíbe homenagem
Esta era a primeira vez que Inocêncio participava num ato de protesto contra a governação. Mambu Miguel, amigo de infância do jovem, diz que a manifestação contra o desemprego, a 24 de outubro, o motivou a marcar presença na do dia 11 de novembro. “Nunca fez parte de nenhum movimento, nunca gostou de política e esta foi a primeira e a última participação dele numa manifestação”, afirma.
Esta segunda-feira, a reitoria da Universidade Agostinho Neto impediu que os estudantes realizassem uma cerimónia de homenagem ao manifestante que estudava Engenharia Informática nesta instituição pública.
“Como estudante, acabei por convocar os meus colegas da Faculdade Ciências Sociais a marcarmos presença no pátio da faculdade, para que homenageássemos o companheiro Inocêncio Matos. Mas a decana emitiu um comunicado dizendo que ninguém devia participar na atividade e a Associação dos Estudantes também se demarcou por razões partidárias, porque o presidente da associação dos estudantes tem filiação à JPMLA [braço juvenil do MPLA, partido no poder]”, explica o estudante de Sociologia Adilson Manuel, promotor do ato.
Os universitários acabaram por realizar a homenagem fora do pátio da instituição, mas com intimidações de uma dezena de agentes da Polícia Nacional. “Nós, ainda assim, resistimos e conseguimos sair. No decorrer da atividade, a decana convocou mais de 40 polícias para intimidar e repreender os estudantes que desobedeceram às ordens”, conta o estudante.
Entretanto, nas universidades privadas do país, tiveram lugar cerimónias de homenagem a Inocêncio Matos. Para sábado (21.11), foi convocada por figuras proeminentes da sociedade civil uma concentração contra “O falso combate à corrupção e a impunidade”, em Luanda.