Dezenas de jovens protestaram nas províncias do Moxico, Lunda Norte e Lunda Sul para exigir o fim das assimetrias regionais nas regiões diamantiferas. Em Luanda, ativistas pediram melhores condições em Ngola Kiluange.
Exibindo cartazes com dizeres como “Exigimos saneamento básico”e “Trabalhem e não roubem”, dezenas de jovens saíram este sábado (16.01) às ruas do distrito de Ngola Kiluange, no município de Luanda, para exigir melhores condições de vida naquela circunscrição. A manifestação foi convocada por um grupo denominado Movimento Pensar Diferente.
Teresa Luther King, uma das organizadoras, explicou à DW África as motivações. “O objetivo era exigir melhores condições de vida no nosso distrito, tal como o abastecimento da água e reabilitação das vias de acesso, sobretudo, a que liga a tecnocarro à Sonangol. Também exigimos que se retome as obras do Hospital da Mãe Joana, cujas obras estão há mais de cinco anos paralisadas”, disse.
“Temos percorrido longas distâncias em busca de assistência médica. Então, queríamos mostrar o nosso descontentamento. Quando queremos assistência, temos que nos deslocar até ao Cazenga”, acrescentou.
A ativista acredita que protestos do género poderão resultar na melhoria das condições de vida e espera que o policiamento na zona seja reforçado nos próximos tempos. “Aqui no nosso bairro quando uma casa está a ser assaltada, você liga para polícia, mas eles estão sempre sem viatura. E, quando chegam, já não chegam a tempo. Com pressões como estas, vai resultar em alguma coisa”, afirma.
Os protestos tinham como destino a administração distrital, mas foi dispersada pela polícia antes de conhecer o seu termo. Teresa não entende as razões da dispersão. “Não se destruiu nenhum bem público. Até que nós respeitamos. Só não entendemos o que motivou a polícia a lançar gás lacrimogéneo”, pasmou-se. A DW África tentou sem sucesso ouvir a polícia angolana.
Manifestações generalizadas
Entretanto, os ativistas do leste de Angola, Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico também saíram às ruas. As manifestações contra as assemetrias regionais foram convocadas pela autoproclamadaFrente do Leste. Nos panfletos, podia ler-se questões como: “JLO, e os nossos diamantes?”e “JLO, não era para Angola ser um só povo e uma só nação?”.
“Com esta manifestação, nós pretendemos chamar atenção a quem governa, nesse caso, o presidente de Angola, o senhor João Lourenço. Angola tem 18 províncias, se ele não sabe disso, estamos a fazer o favor de lhe informar. E não apenas 15. E dessas 18 fazem também parte a Lunda Norte, Sul e o Moxico”, disse à DW África Nelson Euclides, um dos organizadores dos protestos no leste do país.
“Nós não temos vias de acesso. Não temos estradas em condições. Quem vai para o sul de Angola viaja normalmente para outras províncias vizinhas, porque as vias estão em boas condições, diferente de nós aqui. Por exemplo, para irmos ao Saurino e à Luanda temos muitas dificuldades”, lamenta Nelson Euclides.
As dificuldades vivem-se, sobretudo, no município de Xa Muteba, na província da Lunda Norte, à Saurimo, na Lunda Sul. Também do Kuango a Kafunfu, apesar de serem as principais zonas de exploração diamantífera. Ainda há problemas no Moxico, no interior da província. “Só para teres uma ideia, para sairmos do município do Moxico até a Leua, que dista a 68 quilómetros, são dificuldades enormes. Sem falar em outras zonas onde não há vias e a única alternativa é o comboio”, diz.”O próximo passo é continuarmos a lutar sem parar. Vamos resistir, não importa as dificuldades.”
Assimetrias regionais
As assimetrias regionais em Angola têm várias razões, explica Hermenegildo Coelho, especialista em gestão pública e políticas de desenvolvimento territorial. “A falta de uma política de controlo de natalidade faz com que haja um crescimento populacional desenfreado”, afirma.
“E fruto deste crescimento, há a necessidade de o Governo traçar políticas que visam não só controlar a taxa de natalidade, mas também o crescimento económico nas diversas províncias do país, de forma a dar uniformidade, descentralizando os grandes investimentos industriais no país que, por si só, trazem grandes consequências positivas, no sentido de fomentar a economia nestas diferentes regiões”, acrescentou.
Segundo este especialista, para que a questão das assimetrias regionais em Angola seja resolvida,é necessário a formulação de políticas que vão de encontro com as reais necessidades dos cidadãos. Estamos a falar de mecanismos de coordenação técnicos que devem ser levados em conta na formulação das políticas públicas como, por exemplo, nos orçamentos, recursos humanos, entre outros.
“Quando não são levados em conta esses aspetos na sua formulação, logo, a sua implementação também poderá não ter como destinatário final o cidadão, no sentido de resolver os reais problemas que os aflige e, consequentemente, o desenvolvimento territorial”, finalizou.