O Governo apresentou hoje o projeto de construção do Memorial às Vítimas dos Conflitos Armados, entre 1975 e 2022, a ser erguido em Luanda, com custo de cerca de 30 milhões de dólares (28 milhões de euros).
A cerimónia de apresentação foi conduzida pelo coordenador da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), Francisco Queiroz, e contou com a participação de membros do Governo e do corpo diplomático acreditado em Angola.
O memorial, que inicialmente seria construído na zona da encosta da Boavista, vai agora ser edificado na zona da Cidade Alta, numa área de nove hectares adjacente ao Memorial António Agostinho Neto.
Em declarações à imprensa, Francisco Queiroz disse que o local agora escolhido, por orientação do Presidente angolano, João Lourenço, “é muito mais digno do que o da Boavista”.
“A memória dos que pereceram durante os conflitos políticos merece este lugar para ser local de homenagem, para ser ponto de homenagem. Essa foi a razão por que se alterou por orientação do Presidente da República”, salientou.
Segundo o diretor do Gabinete de Obras Especiais encarregue da implementação do projeto, os planos atrasaram-se, estando agora a decorrer o concurso para a escolha do empreiteiro, processo cuja conclusão está prevista para o próximo mês de agosto.
“Acho que a escolha [do novo local] foi muito boa e está à altura daquilo que é a nossa responsabilidade e o nosso respeito para com as vítimas dos conflitos políticos”, disse Francisco Queiroz.
O projeto prevê a construção de três peças, com destaque para uma aliança eterna de nove andares, onde com uma área técnica, loja de recordações, uma sala de convenções, um acervo digital, uma sala de exposições e um observatório de 20 metros, bem como um ‘hall’ de memória.
Para o coordenador da Civicop, este é “um momento especial em memória das vítimas dos conflitos políticos”.
“É um compromisso do Presidente da República, João Lourenço, desde o início da sua legislatura e que começou com esses passos todos que todos já conhecemos e culminou há pouco tempo com a entrega de certidões de óbito às famílias, entrega de ossadas às famílias e agora vamos marchar para um momento mais etéreo”, referiu.
Segundo o também ministro da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola, o memorial “será um local onde a harmonia e a reconciliação serão sempre lembrados como compromisso da sociedade toda”.
Questionado sobre se o processo, que inicialmente teve manifestações de insatisfação de familiares de vítimas dos conflitos armados, especialmente do 27 de maio de 1977, data de um alegado golpe de Estado em Angola, pelo seu percurso, tem agora a aceitação de todos, Francisco Queiroz disse que “são cada vez menos” essas pessoas.
“Todos os projetos quando iniciam, sobretudo projetos desta natureza, são sempre objeto de opiniões que nem sempre são coincidentes. Isto é normal, trata-se de uma situação que teve vítimas e é natural que haja reações no início, mas o propósito desde o início foi reconciliar todas as pessoas, fazer com que não se lembrasse as coisas más do passado, para haver vinganças, para haver retaliações, para apontar os dedos, nunca foi esse o propósito e durante estes dois anos e meio (…) foi este o clima que se conseguiu”, respondeu.
O coordenador da Civicop considerou “possível que ainda haja um ou outro que discorde, é natural, tem de ser respeitado, mas nada é como antes”.
“Hoje há de facto um grande consenso, uma grande comunhão de ideias, sobre o perdão e a reconciliação e os passos concretos que vão sendo dados à volta deste projeto, que demonstram exatamente esta progressão no sentido do perdão e da reconciliação”, frisou.
Em 2019, o Presidente angolano ordenou a criação de uma comissão para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola, entre 11 de novembro de 1975 e 04 de abril de 2002.
O Plano de Reconciliação em Memória às Vítima de Conflitos Políticos prevê, entre outras questões, a emissão de certidão de óbito e a construção de um memorial único para todas as vítimas dos conflitos políticos registados no país.
Ainda no âmbito deste projeto, o Presidente angolano pediu, em 2021, desculpas públicas em nome do Estado angolano por todas as vítimas dos conflitos armados passados entre 1975, ano da independência, e 2002, ano da paz no país.
“Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, disse o chefe do executivo angolano.