Celebra-se hoje mais um dia de independência, conseguida com muito sacrifício, imprenso nas folhas da história com o sangue vermelho dos melhores filhos que essa terra um dia viu nascer.
- 1. Mas, passados esses 46 anos de independência, olhando ao estado em que o país se encontra, percebe-se que a independência não significou para muitos senão uma transferência de poder de autoridade (ontem tida pelo colono português e hoje pelo colono Angolano do MPLA), sequestrando as Instituições e de mais órgãos da Administração Pública para satisfação sua grande cede de permanência no poder, inviabilizando tudo e todos.
- 2. A independência tinha de se traduzir no fim de qualquer tipo de opressão de um sobre os outros, estabilidade e salvaguarda da vida, da integridade física, moral e psicológico dos cidadãos. Traduzir-se também no incentivo à autonomia privada, o respeito à propriedade privada, em suma, um Estado seguro para se viver, onde a autoridade do Estado não se usa para reprimir os cidadãos, tal qual o colono fazia. Um Estado preocupado com a educação, não para criar um grupo de intelectuais ao serviço do mal e uma massa analfabeta, a todos os níveis, disposta a cumprir escrupulosamente os objectivos do novo colono.
- 3. Já em independência, assiste-se um desrespeitar tremendo dos direitos humanos, onde o Estado incentiva com discursos “ distribuição de chocolates”, ao ataque sem precedentes de cidadãos desarmados, protegendo os agressores e maldizendo os agredidos em hasta pública, nos programas televisivos, com publicidade de desincentivo de toda e qualquer tentativa de um respirar coesa de democracia. Temos como exemplo o assassinato de activistas e adversários políticos, usando-se desde os métodos mais bárbaros aos mais sofisticados; desde guerra de Kwata-kwata, à execução em mares pelas bocas de carnívoros jacarés;
- 4. Em anos de independência, assiste-se uma burguesia partidária altamente rica, controlando tudo e mais alguma coisa, desde as lojas de alimentação, serviços de transportes, porções extensivas de terra, mar, habitação e etc. onde em discurso de mestria tamôdica, já alguém disse “ o oxigénio é uma dádiva da sua majestade, o presidente da república”
- 5. Em anos de independência, vemos as ruas repletas de pedintes, pedintes não de um espaço nas passarelas da moda Luanda, mas de um pedaço de pão e uma caneca de chá;
- 6. Em anos de independência, temos a cada ano mais crianças fora do sistema de ensino, estima-se, pelos dados do MEA, que temos de 5 milhões de crianças tiradas o direito de aprender a ler e escrever, número superior aos 3 milhões do ano passado;
- 7. Hoje dia de independência assistiu-se um acto de inviabilização de manifestação em memória ao Inocêncio de Matos, jovem morto a tiro pela polícia no dia 11 de Novembro do ano passado, dia da independência, até hoje sem qualquer justiça. Seu assassino vive pelas ruas da cidade. A referida manifestação foi inviabilizada sem justificação clara na lei, senão a velha cantiga “ ordens superiores, pois o senhor ordens superiores decidiu fazer passeios de inauguração e em consequência as pessoas tinham de abdicar do seu direito e deixar as ruas para o todo-poderoso. A polícia fez recurso a tudo, menos a conversa;
- 8. Hoje dia da independência, assiste-se, até ao momento, a transformação em “espaço de alta segurança, com cães e armas” da rua onde decorre o velório da activista Kénia Imortal, falecida vítima de doença, no passado dia 9 do mesmo mês. O cerco criado pela polícia visando “Prender” os activistas que lá se encontram, pois tem que os mesmos saiam às ruas reclamando contra o pobre sistema de saúde e a inóspito estado das vias de trânsito;
- 9. Em anos de independência, morre-se no sul de Angola por seca e abastecemos a Namíbia com água;
- 10. Em anos de independência, constata-se uma longa corrida às fronteiras com vista a fuga deste Estado de sofrimento a um Estado onde “ o mais pão, mais água e mais luz” não sejam apenas promessas políticas, pois já se corrigiu o que está mal e melhorou-se o que está bem.
Luanda, 11 de Novembro de 2021
O gabinete de Imprensa
Pedro Calielie Nassenda Chitangasi