Inocêncio de Matos, o jovem que se tornou “mártir” de uma geração ao tombar no dia em que se comemoravam os 45 anos da Independência de Angola quando se manifestava nas ruas de Luanda por melhores condições de vida e a realização das primeiras eleições autárquicas, vai a enterrar hoje, sábado, 28, no cemitério da Mulemba, mais conhecido por Cemitério do 14, no município do Cazenga.
O corpo de Inocêncio de Matos sairá às 10:00 da sua residência no bairro São Pedro da Barra, onde decorreu o óbito do estudante do 3º ano de engenharia, morto na manifestação do dia 11 de Novembro, em resultado de confrontos com a Polícia Nacional.
A informação foi avançada pelo advogado da família, Zola Bambi, que já na manhã de ontem tinha dito ao Novo Jornal que a segunda autópsia do jovem Inocêncio de Matos decorreu “finalmente sem obstáculos”, na presença “dos familiares, do fotógrafo que desejavam, técnicos e médico indicado pela família”, tal como tinha sido exigido.
O advogado, que se bateu pela presença de um fotógrafo escolhido pela família,referiu que o foram captadas várias imagens do cadáver antes do procedimento forense. Questionado se mantém a intenção de levar o caso à justiça, Zola Bambi afirmou “que se trata de um crime, e, depois do funeral, a família e o advogado de Inocêncio de Matos terão uma palavra a dizer”, o que indicia que a família vai mesmo avançar com um processo contra a Polícia Nacional e o Estado.
Inocêncio de Matos, de 26 anos, era o terceiro de sete filhos de Alfredo Miguel de Matos (antigo combatente das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), braço armado do MPLA na luta pela independência) e Regina Alberto, e também o único rapaz, após a morte de um irmão seu no ano passado. Natural da província do Uíge, solteiro, o jovem frequentava o 3.º ano do curso de engenharia informática da Universidade Agostinho Neto.
Faleceu, segundo a versão oficial, no Hospital Américo Boavida, em Luanda, onde deu entrada após ter sofrido graves ferimentos na cabeça durante um confronto com a polícia na manifestação do dia 11 de Novembro. A primeira – e a última – em que participou.