Angola: Jovens da UNITA admitem queixa-crime contra polícia nacional por agressão

A Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), braço juvenil da UNITA, admitiu hoje avançar com uma queixa-crime contra a polícia angolana, devido à “agressão brutal” contra manifestantes em 24 de outubro, e pondera participar no próximo protesto.

“De facto não está fora de questão [uma ação contra a polícia]. Estamos a trabalhar afincadamente e a analisar qual a medida mais apropriada a tomar e se acharmos conveniente que ainda assim seja necessário, vamos intentar uma ação judicial”, afirmou o secretário-geral da JURA, Agostinho Kamuango, em resposta à Lusa.

Em conferência de imprensa, o líder da JURA referiu que a possibilidade de avançar com uma ação judicial contra a polícia angolana decorre dos “maus tratos e sequelas que muitos jovens manifestantes vão carregar pelo resto da vida”, resultantes das agressões.

A polícia angolana reprimiu em 24 de outubro, em Luanda, uma manifestação em que os jovens e ativistas reivindicavam melhores condições de vida e realização das autarquias locais.

Mais de cem jovens, incluindo Agostinho Kamuango, foram detidos, permanecendo na cadeia durante uma semana, e julgados por crimes de desobediência, arruaça e destruição de bens materiais.

Na semana passada, o Presidente angolano, João Lourenço, condenou a participação da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) na marcha daquele dia, considerando que o maior partido na oposição angolana deve assumir “todas as consequências dos seus atos de irresponsabilidade” caso haja um aumento de casos de covid-19.

Os jovens, que já se encontram em liberdade, desde domingo, agendaram para 11 de novembro uma nova manifestação para exigir melhores condições de vida e a demissão de Edeltrudes Costa, diretor do gabinete do Presidente angolano, supostamente envolvido em esquemas de corrupção e enriquecimento ilícito.

Em relação à participação, ou não, da JURA na manifestação de 11 de novembro, feriado nacional em Angola, que celebra o 45.º aniversário da independência do país, Kamuango admitiu que a agremiação juvenil se pode juntar.

“Enquanto organização, se a JURA entender participar então se vai pronunciar, mas antes de sermos membros da JURA somos cidadãos e cada um de nós também pode pretender participar numa ou noutra manifestação e nada proíbe”, disse à Lusa.

O dirigente da JURA apelou também às autoridades a respeitarem o direito à manifestação, pedindo a quem governa “um comportamento dentro dos marcos da lei, de modo a que as manifestações não sejam reprimidas”.

“O que temos assistido é o excesso de zelo por parte da polícia nacional, o que muitas vezes resvala em desacatos. O direito à manifestação é universal, deve ser protegido”, defendeu.

Agostinho Kamuango acusou ainda o Presidente angolano de estar a manipular as leis do país ao exarar um decreto inconstitucional para contrapor à manifestação e servir de escudo, para injustamente, condenar os jovens.

O Presidente angolano, considerou, “está a revelar-se um ditador” e lembrou que “ninguém está acima da lei”.

“O único culpado do que se vive no país, nos últimos tempos, é o senhor Presidente da República que subestimou a força da juventude”, concluiu Kamuango.

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