Um encontro marcado para este sábado no Bengo deveria reunir à mesma mesa jovens e autoridades para falar do “Direito à Manifestação”, mas a polícia não compareceu. Os ativistas decidiram sair às ruas nos próximos meses.
Os problemas são conhecidos: o elevado custo de vida, a não realização das eleições autárquicas e a permanência do MPLA no poder. O que tarda a chegar são as soluções, razão pela qual uma série de manifestações deverá acontecer nos próximos meses na província angolana do Bengo.
A informação foi avançada, este sábado (13.02) à DW África, pelo coordenador provincial do Movimento Revolucionário, Jaime MC, que entende que o lugar dos ativistas é na rua.
“Sairemos às ruas, é lá onde devemos ficar, não devíamos ter saído. Nós somos homens das ruas”, afirmou.
Várias províncias de Angola têm sido palco de manifestações nos últimos meses, mas não o Bengo. Um facto que fica a dever-se, explica o ativista, à indisponibilidade, por diferentes motivos, dos vários organizadores.
“Parámos de sair às ruas porque eu fui atropelado pela polícia durante uma manifestação (realizada no meio do ano passado). Fui jogado para uma cadeia, não tive assistência médica, nem acesso a medicamentos. Depois fui condenado a um mês de prisão com os meus companheiros Cheque Hata, Piriquito e Mbozo Lima”, explica Jaime MC, acrescentando que o movimento está de volta para mostrar “que aquilo que não nos mata, torna-nos mais fortes”.
Também o jovem e ativista MC Life diz estar preparado para participar nas próximas reivindicações. “O ativismo é algo que nos identifica, é algo que começamos a fazer muito cedo e por isso estamos preparados para participar em qualquer ação com ele relacionada”.
Polícia não compareceu
Para mobilizar a juventude local e preparar condições para as próximas reivindicações, uma palestra sobre “O Direito à Manifestação e Repressão Policial” teve lugar, este sábado (13.02), em Caxito. O evento previa a participação de vários jovens ativistas e também de um representante da Polícia Nacional, que acabou por não comparecer, segundo as autoridades, por “sobreposição de agenda”.
José Hata, integrante do conhecido processo 15+2 e promotor do encontro, começou por afirmar as dificuldades enfrentadas pela sua equipa para a realização deste evento, desde logo porque “agentes ligados à Policia Nacional tentaram impedir a cedência do espaço para o evento”.
“Há dois dias, a Polícia esteve aqui a pressionar o gestor do espaço e a dizer que (o evento) não poderia acontecer. Felizmente o senhor conhece os seus direitos, tem uma consciência cívica e cidadã aceitável”.
A DW África contactou o Porta-voz do comando Provincial da Polícia Nacional, Paulo Miranda de Sousa, que desmentiu o sucedido. Não condiz com a verdade. Esta é uma empresa particular, a polícia não tem como impedir, desde que eles cumpram com os requisitos na aquisição do espaço, não vejo nenhuma inconveniência. A polícia desmente”, disse.