O Líder reformista da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) Angola, Valente Bizerra Luís, negou que exista uma reconciliação de alas desavindas, acusando o bispo que dirige a ala brasileira de não ter “real interesse” nessa aproximação.
Valente Luís respondia assim ao bispo Alberto Segunda, que lidera a outra ala da seita fundada pelo Edir Macedo depois de ter substituído o brasileiro Honorilton Gonçalves, e afirmou à televisão pública angolana (TPA) que as alas desavindas estariam reconciliadas.
Valente Luís sublinhou que a IURD Angola que dirige, legitimada pelo governo angolano, tem interesse em reconciliar os irmãos desavindos, desenvolvendo “esforços contínuos” nesse sentido com apoio de outros líderes religiosos “porém, sem sucesso até ao momento”.
Num comunicado divulgado na sua página do Facebook, considera as afirmações de Alberto Segunda surpreendentes e acusa-o de confundir os membros da igreja e a opinião pública considerando que não há “real interesse” por parte desta ala na reconciliação.
Porém, “mantemos as portas abertas” e “continuaremos em oração para que a tão desejada unificação venha a ocorrer”, prossegue, afirmando que será nessa altura emitido um comunicado conjunto.
Valente Luís apela ainda às autoridades angolanas, nomeadamente ao Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR) — que legitimou esta ala como representante legal da igreja em Angola – que ordene a reabertura dos templos ainda encerrados e os devolva aos representantes legítimos da igreja.
Na passada terça-feira, “Alberto Segunda convocou uma conferência de imprensa dizendo que não havia obstáculos legais à reabertura dos templos, mas que aguardava ainda um pronunciamento público do Estado angolano sobre estas questões”.
O bispo angolano que substituiu Honorilton Gonçalves – após as polémicas que envolveram este líder religioso, que chegou a ser arguido num processo — salientou que o processo relativo aos templos que tinham sido apreendidos pela Procuradoria-Geral da República de Angola e lacrados por determinação legal chegou ao fim em dezembro de 2022, tendo sido determinada a sua restituição.
Alberto Segunda explicou que os locais de culto ainda não abriram porque estão à espera de um “procedimento administrativo” e querem “um pronunciamento público” sobre estas questões por parte do Estado angolano.
“Entendemos que todos os templos deveriam já estar abertos e acreditamos que vão abrir, de forma gradual, até por conta do estado crítico dos edifícios”, disse o bispo da IURD, já que alguns destes, ao longo dos três anos, ficaram degradados devido a chuvas e falta de manutenção.
Salientou ainda que, no caso das catedrais que estão nas mãos da ala reformista, os órgãos de Direito têm mecanismos para sanar essa situação: “Não somos nós que vamos lá tirar os nossos irmãos, com certeza serão notificados e dentro dos procedimentos judiciais e administrativos esses templos também serão devolvidos”.
Alberto Segunda vincou que a IURD é autónoma em Angola e dirigida 100% por angolanos, contando com cerca de cem pastores, todos de nacionalidade angolana, rejeitando a ideia de se tratar de uma “ala brasileira”.
O bispo frisou que tem apelado aos irmãos “que voltem à igreja-mãe” e que a existência de outra ala é um “não assunto”, acrescentando que não há qualquer problema com os fiéis.
Alberto Segunda disse que tem havido vários “encontros produtivos” com os líderes da ala reformista em fóruns religiosos e institucionais para mediação do conflito, com “conversas serenas”.
O responsável destacou que a IURD já tem um registo, um nome e uma marca e que “se há coisas a corrigir é isso que deve ser feito, em vez de se criar situações que dividam os fiéis”.
Em novembro de 2019, dissidentes da IURD em Angola acusaram a direção brasileira de crimes financeiros, racismo, discriminação e abuso de autoridade, entre outros, e constituíram uma ala reformista, encabeçada por Valente Bizerra Luís, entretanto reconhecida pelo Governo angolano como legítima representante do movimento religioso fundado por Edir Macedo.
Na sequência, foram constituídos arguidos quatro membros da liderança da IURD, que foram absolvidos em março de 2022, da maioria das acusações, exceto o ex-responsável Honorilton Gonçalves, condenado a três anos de prisão, de pena suspensa, pelo crime de violência física e psicológica.
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