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Angola: Luanda está “lixada” e jovens querem soluções para a cidade

Cerca de 30 jovens participaram hoje num protesto contra a falta de soluções para o lixo na cidade de Luanda, alertando para os riscos para a saúde pública e pedindo soluções sustentáveis e de longo prazo

“Isto é um grito de socorro contra a situação que se vive”, gritou ao megafone, Israel Campos, um dos organizadores da manifestação pouco antes das 13:00, hora a que os jovens concentrados no Largo das Heroínas iniciaram o desfile em direção ao Largo 1.º de Maio, uma das praças emblemáticas de Luanda onde têm terminado muitas das marchas organizadas nos últimos tempos.

Ao contrário de protestos mais recentes, marcados por atos de violência entre polícia e manifestantes, hoje tudo decorreu de forma calma e ordeira, com a organização a solicitar o cumprimento do distanciamento social entre o pequeno grupo.

A escassa mobilização não demoveu, no entanto, os jovens que convocaram o protesto e que se mostraram mais preocupados com a causa do que com o número de participantes.

Envergando t-shirts com os dizeres “Luanda Lixada”, os jovens exprimiram também através de cartazes caseiros as preocupações que têm afligido os municípios de Luanda nos últimos meses face ao lixo acumulado, obrigando o presidente angolano a criar, na semana passada, uma comissão interministerial emergencial para lidar com o problema que tem deixado a governadora Joana Lina sob crescente pressão.

 “Uma casa suja diz muito sobre os donos”, “Luanda: Cidade do Lixo”, “O povo angolano não é lixo” ou “Menos moscas, mais saúde” eram algumas das frases exibidas nos posters.

Para o jornalista Israel Campos, de 21 anos, este é um problema que afeta substancialmente a saúde pública.

“Temos muita gente nos hospitais a padecer de doenças como malária, febre tifoide, etc., por causa dos mosquitos, das chuvas e do lixo”, notou.

A ministra da Saúde, Silvia Lutucuta, que integra a comissão interministerial, admitiu na semana passada que a falta de higiene pode desencadear um surto de cólera e os médicos tem denunciado o aumento dos casos de diarreias e gastroenterites nos hospitais.

“Queremos chamar a atenção das mossas autoridades para que se encontre uma forma sustentável de resolução da problemática do lixo”, em vez de paliativos, disse à Lusa Israel Campos, sublinhando que a gestão do país tem de ser descentralizada e que a resolução dos problemas não pode passar sempre pelo Presidente da República.

O problema do lixo arrasta-se desde dezembro, altura em que o Governo Provincial de Luanda, suspendeu os contratos com seis operadoras por incapacidade de pagar uma dívida que ascendia a mais de 300 milhões de euros.

Em fevereiro o presidente angolano, Joao Lourenço, autorizou a despesa para um concurso emergencial de serviços de limpeza e, em março, foi anunciado que sete novas empresas iriam assegurar a gestão de resíduos. No entanto, a alegada falta de experiência e de capacidade técnica dos novos operadores, bem como a falta de transparência dos concursos tem sido questionada.

“Moscas, muitas moscas em todo o sítio”, disse Tchissala Figueiredo a propósito de um dos impactos mais visíveis na capital angolana das montanhas de lixo acumulado, que se reflete também num aumento das doenças.

“Essa é uma grande preocupação, qual vai ser o impacto da saúde pública com o lixo que se tem acumulado”, salientou a jovem estudante de 21 anos.

Tchissala Figueiredo quis participar na marcha para mostrar a “insatisfação com a má gestão dos resíduos sólidos em Luanda”, destacando que o problema não é de hoje.

“É inconcebível que até hoje não consigamos dar resposta a isso. Quando o mundo já está virado para a resolução de problemas ecológicos, nós ainda estamos focados em se vão recolher o lixo ou não. Isso é ridículo”, desabafou.

Sobre a limpeza desencadeada desde que a comissão interministerial entrou em campo, afirmou que já se fazem sentir algumas diferenças, mas depende muito dos bairros em que se vive.

“Agora incomoda mais porque há muito lixo na cidade, mas na periferia sempre houve lixo, Luanda nunca foi uma cidade limpa”, lamentou Tchissala Figueiredo, pedindo “soluções a longo prazo”.

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