Angola: “Mortalidade infantil” em Hospital Geral de Benguela causa preocupações

Entre cinco a seis crianças morrem diariamente no Hospital Geral de Benguela, devido à malária e má nutrição. Numa altura em que o hospital está sem capacidade para atender a procura, as críticas sobem de tom.

Edgar Bucassa, secretário provincial do sindicato dos médicos em Benguela, disse à DW África que a situação de carência no país está a causar o aumento do número de doentes que dão entrada no Hospital Geral de Benguela. “Estamos a receber muitos pacientes mal nutridos, fruto das dificuldades que as famílias vão vivendo e de um nível de pobreza acentuado”, diz.

O mesmo especialista acrescenta que a unidade hospitalar está sem capacidade para atender a procura, o que está a fazer com que as crianças que chegam “estejam a dormir no chão, muitas só com um lençol” e aglomeradas. “Na verdade, o hospital não consegue dar conta da situação, porque não temos como expulsar os pacientes, o que tem dificultado o atendimento do corpo clínico e de enfermagem”, conclui Edgar Bucassa.

Oposição critica

Uma delegação composta pelas formações políticas na oposição, Bloco Democrático e CASA-CE, foi impedida de visitar a pediatria do Hospital Geral de Benguela, onde pretendia inteirar-se da situação.

A médica pediatra de serviço, Adelaide da Silva, argumenta não ter recebido orientações para receber os políticos e a imprensa que os acompanhava. O Secretário provincial do Bloco Democrático, Zeferino Kuvingua, que liderava a delegação, mostrou-se insatisfeito com a recusa do Hospital.

“As crianças morrem por falta de comida, muita fome, a população come farelo. Este é um período que vai pesar muito nas contas do MPLA. Este cenário das enchentes nos hospitais é novo. É um cenário de dois meses, é um período em que estamos com o novo governador”.

150 mortes por malária em abril

Só no mês de abril, o hospital registou cerca de 150 mortes de crianças por malária e desnutrição. Neste momento, mais de 200 crianças estão internadas nesta unidade hospitalar.

Para Adriano Sapinãla, secretário provincial da UNITA, o maior partido da oposição, em Benguela e deputado no Parlamento, Angola tem um sistema de saúde “doentio”.

“As senhoras que estão no hospital dizem que nem sequer nessas áreas onde são feitos os cuidados de subnutrição há alimentação suficiente para aliviar pelo menos os primeiros dias das crianças que chegam”.

Uma situação que parece particularmente grave a Sapinãla por comprometer o desenvolvimento do país: “porque, repare, são mortes de crianças, crianças que poderiam ter um crescimento normal num país normal, a garantirem o futuro do país”, nota.

Também o jornalista Delpy Chipango entende que “o que está a acontecer no Hospital Geral de Benguela se prende com a fome”, e explica: “porque os pais perderam o poder de compra, sobretudo as mães, muitas delas são zungueiras, mães solteiras que todos os dias vão labutando”.

Para além da falta de capacidade, o mau atendimento nas unidades sanitárias também desagrada os cidadãos em Benguela: João Gomes queixa-se que “há enfermeiros que atendem muito mal a população” e que “a população já necessita de bom atendimento”.

 

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