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Angola: MPLA está “assustado com Frente Patriótica Unida (FPU)” – Politólogo Olívio Nkilumbo

O politólogo Olívio Nkilumbo considera que 2022 é um ano que promete em Angola. As eleições gerais de agosto deverão ser as “mais disputadas e renhidas” de sempre.

2022 é um ano que promete em termos políticos em Angola – a começar pela recente troca de acusações entre o Presidente João Lourenço e o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior.

O politólogo angolano Olívio Nkilumbo não tem dúvidas de que o ambiente político melhorou significativamente em Angola nos últimos tempos. E a oposição cresceu ao decidir concorrer em bloco às eleições gerais previstas para agosto. Por isso, considera que as declarações do Presidente João Lourenço – que na semana passada disse que a UNITA se coligou com outros partidos porque tem medo de concorrer sozinha contra o MPLA – só revelam o receio que o partido no poder tem de enfrentar a Frente Patriótica Unida (FPU) nas urnas.

DW África: João Lourenço diz que a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) “está pior do que há uns anos” e que formou uma coligação porque tem medo de enfrentar sozinha o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) nas urnas. Mas não acha que o ambiente político agora está diferente em Angola e há cada vez mais um desejo coletivo de pluralidade?

Olívio Nkilumbo (ON): O ambiente político melhorou significativamente, sobretudo com a eleição de Adalberto Costa Júnior, em 2019, porque veio animar o ambiente político. Alterou significativamente a postura da UNITA enquanto partido na oposição, que passou a ter uma posição de querer fazer uma alternância. Isso é um ponto positivo. Ora, a oposição cresceu do ponto vista da qualidade política, porque decidiu ir em bloco às próximas eleições. E, aliás, João Lourenço só está a provar do próprio veneno, como se diz na gíria, porque numa das suas intervenções públicas disse que os primos, amigos e sobrinhos se deviam juntar se quisessem chegar ao poder. A oposição fez isso.

DW África: Acha que este discurso de João Lourenço revela antes que o MPLA está com receio de enfrentar a UNITA e a Frente Patriótica Unida nas urnas?

ON: Absolutamente. Nas democracias maduras, já não vão sozinhos, vão em bloco, porque a confluência de interesses e de vontades move melhor os moinhos do que o individualismo. Não se esperava que a oposição angolana desse esse salto, até porque o ambiente político no país não é democrático. Nós somos uma autocracia, onde há um partido único dominante, que capturou o Estado e consegue manobrá-lo e, por via disso, fica difícil fazer oposição no verdadeiro sentido.

Então, a oposição, ao criar esta frente, que, no futuro, pode ser uma coligação ou algo parecido, dá um salto de qualidade que embaraça as contas do MPLA. O MPLA fica assustado, porque este bloco torna-se muito forte. Quem não estiver nesta Frente Patriótica Unida (FPU) está a favor do MPLA. Essa posição da FPU embaraça até partidos políticos na oposição, porque, se a vontade única dos angolanos é a alternância, é importante que todos pensem da mesma forma.

Nem todos os partidos na oposição querem ser alternância, mas os que criaram a FPU têm esse grande interesse. E é claro que o MPLA, como quer manter o seu poder político, fica assustado e tem der mandar farpas para desincentivar esta tendência.

DW África: Agora também há muita contestação nas ruas, há muito descontentamento por parte das pessoas e, portanto, o MPLA poderá pagar nas urnas por estas promessas não cumpridas?

ON: Se as eleições forem realmente justas, vai pagar. Mas, como sabe, em Angola as eleições não são justas, livres e transparentes. Com a questão da fraude que está praticamente desmascarada – na lei, na imprensa pública – as eleições são mera fachada.

Mas há um desgaste do MPLA após 46 anos, e há um desgaste de João Lourenço após quatro anos de mandato: ele não cumpriu as suas promessas e a situação piorou comparativamente à governação de José Eduardo dos Santos, do ponto de vista económico, político e social. Faltam soluções e, por isso, agudiza-se o descontentamento. Há grupos específicos com grande influência social – ativistas, sociedade civil, Igreja – que vão demonstrando o estado calamitoso em que o país se apresenta.

DW África: 2022 começou com uma acesa troca de palavras entre João Lourenço e Adalberto Costa Júnior. É um ano político eleitoral que promete em Angola?

ON: Absolutamente. Vão ser eleições as eleições mais disputadas e renhidas [de sempre], e vão estar sob o escrutínio atento dos cidadãos. Cresceu significativamente a consciência política dos angolanos e a vontade de alternância. Portanto, os partidos políticos têm essa oportunidade. Podem aproveitar o desfalque geral do MPLA e também o sistema internacional, porque o ambiente político interno e externo influencia naturalmente o que pode acontecer em agosto deste ano.

 

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