No Dia Internacional da Mulher, sobem de tom as vozes que pedem maior participação das mulheres na vida política. E querem as mulheres em cargos de topo, tanto no Governo central, como nas províncias e no Parlamento.
Muito foi feito, mas muito continua por fazer em relação à representatividade das mulheres na política em Angola. Sobretudo nas bases, cada vez mais mulheres ocupam cargos de chefia, diz Cristina Nené Samuel, presidente provincial da LIMA, o braço feminino da UNITA no Cuando Cubango.
“A mulher está inserida em todos os níveis, já temos nos cargos de secretarias comunais e no executivo provincial do partido”, lembra.
Mas os obstáculos são maiores à medida que se sobe a pirâmide do aparelho estatal, comenta Cristina Nené Samuel. No Parlamento, só 30% dos assentos são ocupados por mulheres; “num total de 18 governadores, apenas quatro são mulheres, e, no Governo central, só há sete ministras em 21 ministérios”. Além disso, o Presidente da República é um homem.
São contas que não agradam a Cristina Nené Samuel. Mas a política da UNITA diz que a falta de representatividade não é de admirar, uma vez que, segundo ela, as mulheres têm de lutar bastante mais do que os homens para conseguirem chegar a determinados cargos.
“Ao nível do país, os cargos ainda não são satisfatórios, mas também, para as mulheres, os cargos não são dados de bandeja. Nós, mulheres, temos que procurar sempre adquirir conhecimentos e mostrar que somos capazes de realizar certas atividades”, afirma.
Igualdade ainda não é realidade
Em Angola, ainda há discriminação contra as mulheres. Muitos homens duvidam das suas capacidades. Segundo o sociólogo Ovídio Fernandes, só lentamente a mulher tem conquistado o seu merecido lugar.
“Isto é, na política, na economia, na saúde, na educação, no desporto, na religião e em outros lugares na sociedade. Nós percebemos que a mulher vai tomando o seu lugar, um lugar que a sociedade em si não estava habituada, com o alcance das suas oportunidades, fruto do seu trabalho na sociedade, ela mudou completamente”, explica.
Persistem, no entanto, bastante desafios, comenta o sociólogo: “Ela ainda luta de uma forma geral para o alcance da igualdade”.
Quotas são a solução?
Esta será, talvez, uma questão a considerar na elaboração das listas dos partidos para as eleições gerais de agosto. Se mais de metade dos angolanos são mulheres, será que mais de metade dos assentos deveriam ser reservados a deputadas? Em 2009, Angola chegou a ter 38,6% de mulheres no Parlamento. Agora, o número baixou.
Em fevereiro, a vice-presidente da Assembleia Nacional, Emília Carlota Dias, disse à Rádio das Nações Unidas que é preciso “continuar a pressionar” os líderes angolanos para haver “quotas” e discriminar positivamente as mulheres, para que possam participar cada vez mais na tomada de decisões.
É também o que diz Cristina Nené Samuel, presidente do braço feminino da UNITA no Cuando Cubango, que faz um apelo “a quem de direito, que passe a apostar um pouco mais nas mulheres, porque elas também são capazes de exercer certas atividades que os homens exercem”.